Apresentação

A Revista Domingueira da Saúde é uma publicação semanal do Instituto de Direito Sanitário - IDISA em homenagem ao Gilson Carvalho, o idealizador e editor durante mais de 15 anos da Domingueira da Saúde na qual encaminhava a mais de 10 mil pessoas informações e comentários a respeito do Sistema Único de Saúde e em especial de seu funcionamento e financiamento. Com a sua morte, o IDISA, do qual ele foi fundador e se manteve filiado durante toda a sua existência, com intensa participação, passou a cuidar da Domingueira hoje com mais de 15 mil leitores e agora passa a ter o formato de uma Revista virtual. A Revista Domingueira continuará o propósito inicial de Gilson Carvalho de manter todos informados a respeito do funcionamento e financiamento e outros temas da saúde pública brasileira.

Editores Chefes
Áquilas Mendes
Francisco Funcia
Lenir Santos

Conselho Editorial
Élida Graziane Pinto
Marcia Scatolin
Nelson Rodrigues dos Santos
Thiago Lopes Cardoso campos
Valéria Alpino Bigonha Salgado

ISSN 2525-8583



Domingueira Nº 01 - Janeiro

Índice

  1. Os desafios da Saúde para 2023 e adiante - por Carmino de Souza

Os desafios da Saúde para 2023 e adiante

Por Carmino de Souza


Este é meu último artigo neste ano de 2022 que, finalmente, está terminando. Ano extremamente difícil e singular por todos os eventos e desafios nele contido. Tivemos as mais acirradas eleições da história do Brasil, com um país completamente dividido e um pouco atordoado em relação ao futuro e ao seu projeto de nação.

Podemos dizer com satisfação que, apesar dos enormes dramas e embates, a democracia sofreu, mas sobreviveu e venceu. Com todas as batalhas vividas, as instituições deram demonstrações de respeito aos desígnios constitucionais e legais da nação. Porém, nada disto foi obtido sem grandes fissuras e sequelas sociais e políticas que deverão ser curadas e cicatrizadas no futuro, sempre dentro do exercício democrático.

Vivemos este ano ainda sob a égide da pandemia do SarsCov2 agora com suas diversas cepas da variante Ômicron que nos assombraram durante todo o ano, terminando com uma onda avassaladora de transmissão nestes meses de novembro e dezembro.

Certamente, o absoluto relaxamento da população e das autoridades nas ações e recomendações e na utilização de medidas convencionais de proteção, associado ao processo eleitoral onde as aglomerações são uma constante, a ansiedade de participarmos em eventos esportivos, culturais, científico etc. fez com que as condições de transmissão do vírus voltassem e que nova onda se instalasse dentre nós.

Felizmente, um segmento muito expressivo de nossa sociedade está vacinado e, ainda que as vacinas não impeçam a transmissão e a infecção pelo vírus, elas reduzem dramaticamente os eventos e agravos mais severos e de risco à vida. Restam sempre as pessoas não vacinadas (injustificadamente), ou parcialmente vacinadas e os pacientes de maior vulnerabilidade que continuaram a precisar de internações e ainda, infelizmente, com relato de mortes evitáveis.

As vacinas são salvadoras, principalmente as de primeira geração que são as que temos e certamente continuarão a ser salvadoras nas gerações seguintes. Não devemos jamais duvidar disto, mas o desafio da pandemia segue em 2023 e possivelmente também nos anos que se seguirão.

Para a Saúde, alguns desafios serão enormes e improrrogáveis em seu enfrentamento. Já assinalei em meu artigo de 28/11/2022 que o financiamento do SUS é crítico e deverá ser revisto, reformatado e ampliado em muitas das ações. O SUS está subfinanciado com um progressivo “desfinanciamento” nas últimas décadas principalmente por parte do Governo Federal. Devemos elevar o percentual para, pelo menos, 6% do PIB que são os valores de muitos países através do mundo.

Dispositivos constitucionais e legais definiram o % de alocação mínima orçamentária em saúde dos Estados e Municípios em 12% e 15% (17% em Campinas), respectivamente, mas, nunca isto foi definido para o Governo Federal. O teto de gastos, incluindo a EC95, pioraram a situação pois congelaram os recursos federais por 20 anos. Isto está sendo alvo de debates acalorados entre o governo eleito e o Congresso nacional para encontrarmos as alternativas legais para superar este problema.

O SUS não suportará este estado de coisas, precisa haver uma alternativa. Como já disse em outros momentos, a regionalização da Saúde deve ser desenvolvida e organizada em todo o país com as definições das redes de assistência, hierarquizadas e descentralizadas, preceitos básicos da organização do SUS.

Este é um tema dificílimo pois não existem definições legais ou normativas para que isto seja equacionado, mas sem a qual não conseguiremos organizar, dar eficiência e excelência ao sistema com conforto e agilidade à assistência à saúde, aos pacientes e seus familiares.

Outro tema central e que tenho lutado e falado onde posso é sobre o enfrentamento do Câncer. Defendo que dentro da nova política de enfrentamento ao câncer que está sendo construída com a participação do MS, Conasems, Conass, Congresso Nacional, representantes da Sociedade, etc., que o Brasil instale urgentemente um “Programa Nacional para o Câncer” ligado ao Ministério da Saúde à semelhança de outros programas vitoriosos existentes no âmbito do SUS.

Tenho sugerido que, após minucioso estudo de todo o território nacional neste tema, a criação de Centros Integrados de Câncer distribuídos pelo país para garantir acesso e qualidade de acesso, perto de casa aos pacientes com câncer bem como ações de prevenção, educação e pesquisa neste campo. Sugiro ainda, a organização definitiva de redes de câncer e uma total revisão das práticas de financiamento que possam respeitar a evolução da área e as incorporações de novos procedimentos diagnósticos e terapêuticos.

Temos que trabalhar pela equidade na área e promover o acesso com qualidade esteja onde estiver o paciente com câncer em território nacional.

Outros temos críticos ao futuro da saúde, pública ou privada, são a instalação das indústrias da saúde, com apoio absoluto aos Instituto Butantan, Fiocruz, dentre outras já existentes no país; o avanço fundamental das ações em tecnologia da informação (TI) com o registro único do cidadão e o constante desenvolvimento da Telessaúde; a educação e pesquisa em saúde com apoio às áreas prioritárias através de nossas instituições de ensino superior e entes federados e apoio fundamental às residências médicas e multiprofissionais com trabalho conjunto entre os Ministérios da Saúde e Educação/Cultura (MEC); revisão e definição das carreiras em saúde com valorização do trabalho dos profissionais que dão suporte constante às ações em saúde; e, finalmente, preparar os sistemas públicos e privados para novas crises sanitárias que poderão vir no futuro.

Os sistemas públicos (SUS) e privados demonstraram a sua importância na pandemia. Mas, também deixaram claras as suas fragilidades que precisam ser minimizadas. Este é o momento para estabelecer este debate e buscar as soluções. Desejo um ótimo 2023 a todos!


Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Atual secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo.


Fonte: Hora Campinas 26 de Dezembro




OUTRAS DOMINGUEIRAS