Apresentação

A Revista Domingueira da Saúde é uma publicação semanal do Instituto de Direito Sanitário - IDISA em homenagem ao Gilson Carvalho, o idealizador e editor durante mais de 15 anos da Domingueira da Saúde na qual encaminhava a mais de 10 mil pessoas informações e comentários a respeito do Sistema Único de Saúde e em especial de seu funcionamento e financiamento. Com a sua morte, o IDISA, do qual ele foi fundador e se manteve filiado durante toda a sua existência, com intensa participação, passou a cuidar da Domingueira hoje com mais de 15 mil leitores e agora passa a ter o formato de uma Revista virtual. A Revista Domingueira continuará o propósito inicial de Gilson Carvalho de manter todos informados a respeito do funcionamento e financiamento e outros temas da saúde pública brasileira.

Editores Chefes
Áquilas Mendes
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Conselho Editorial
Élida Graziane Pinto
Marcia Scatolin
Nelson Rodrigues dos Santos
Thiago Lopes Cardoso campos
Valéria Alpino Bigonha Salgado

ISSN 2525-8583



Domingueira Nº 02 - Janeiro 2022

Índice

  1. Será que estamos evoluindo para a endemia do SarsCov2? - por Carmino de Souza e Andrea Von Zubem

Será que estamos evoluindo para a endemia do SarsCov2?

Por Carmino de Souza e Andrea Von Zubem


Novamente estamos em uma nova encruzilhada desta grave e desafiante crise sanitária associada à infecção do denominado novo coronavírus, o SarsCov2 e sua doença, a Covid-19. A impressionante disseminação da variante Ômicron através de todo o mundo, tendo se iniciado possivelmente na África do Sul e atingindo em velocidade espantosa todos os continentes, tem trazido muitas discussões de como conduzir este momento. Dois anos de evolução mostraram que existem medidas vitais e que não podemos abrir mão sob qualquer pretexto.

Assim, as medidas não farmacológicas de distanciamento social, higiene constante das mãos com água e sabonete e/ou álcool em gel e o uso de máscaras; a vacinação em massa em todos os grupos etários e dose de reforço, principalmente nos grupos prioritários que são os idosos, profissionais de saúde e pacientes imunossuprimidos e a testagem em massa de sintomáticos e contactantes e mais recentemente de viajantes, onde os testes de antígenos ou PCR são exigidos, são medidas fundamentais e devem ser seguidas, não sabemos até quando.

Vemos ainda que a grande maioria dos países adotou o “passaporte sanitário” que permite que cidadãos vacinados tenham acesso e utilizem determinados espaços e estabelecimentos. Isto ocorre, principalmente, em locais fechados e onde o cidadão possivelmente retirará sua máscara, como, por exemplo, em estabelecimentos alimentares (restaurantes, bares, etc.). Mas, este passaporte tem sido exigido para acesso em lojas, supermercados, etc.

Outra prática muito habitual implantada em muitos países é a popularização dos testes de antígenos (e mesmo o PCR), inclusive para uso doméstico e corporativo e a instalação de inúmeros centros de testagem, incluindo as redes de farmácias. Esta testagem pode ser gratuita (pagas pelos governos) ou não, permitindo que as pessoas possam ser testadas a qualquer momento dentro de sua necessidade ou exigência.

Tudo o que estamos vendo sugere que estamos cada vez mais nos preparando para o “novo normal” e para adquirir práticas de vida que permitam que sigamos adiante com a consciência de que não estaremos livres deste vírus em horizonte de tempo que possamos avistar. Porém, todos podem imaginar que os pressupostos para que possamos avançar neste sentido dependem em muito do próprio cidadão e, é claro, das políticas públicas definidas e sustentadas pelos governos.

O cidadão deve sempre manter os cuidados fundamentais fartamente divulgados e se vacinar (não há argumento racional para não fazer). Além disto, devem seguir as orientações da ciência e das autoridades de saúde a cada etapa vencida ou estabelecida. Aos governos, devem promover políticas de vacinação cada vez mais protetivas e seletivas e promover ainda a testagem em massa para reconhecimento dos portadores, seus contatos e pessoas assintomáticas.

Importante destacar a nova visão política e assistencial para a educação em todos os níveis. Diante da alta transmissibilidade e avanço da variante Ômicron no mundo todo e no Brasil, existe preocupação, especialmente, em indivíduos não vacinados, o que faz das crianças abaixo de 12 anos um grupo de especial atenção para imunização.

Temos disponível uma vacina licenciada no Brasil eficaz e segura para crianças a partir de 5 anos de idade, que imunizadas terão como benefício individual a proteção contra formas graves e óbitos por Covid-19 e como benefício coletivo, redução da transmissão viral, fazendo com que haja segurança adicional para retomada das atividades escolares presenciais. A segurança da vacina em escolares pode ser corroborada pelo sistema de vigilância de eventos adversos dos EUA que registrou somente 8 casos de miocardite em mais de 7 milhões de vacinados, todos com evolução favorável.

Cremos que as escolas devem ser as primeiras a serem abertas e as últimas a serem fechadas, neste momento. O prejuízo às crianças e aos estudantes em geral já foi enorme e hoje, com a utilização das medidas acima descritas e com medidas protetoras, vacinas e monitoramento de alunos e professores, serão possíveis os retornos às escolas com a segurança necessária.

Dados da OMS e de muitos epidemiologistas de todo o mundo trazem previsões, ainda que contidas, já que é impossível termos certeza do que acontecerá de fato, que talvez tenhamos que tratar este momento como uma endemia e com os critérios de controle e segurança já muito bem estabelecidos até este momento, agregando novas medidas com os novos conhecimentos adquiridos.

Possivelmente, não estaremos livres de novas variantes com comportamento clínico e biológico diverso do que estamos vendo até o momento. Esperamos que os programas de vacinação sejam ampliados (sem embates ou desinformações) e estendidos a todos os países do mundo, principalmente os mais pobres e vulneráveis. Este é um constrangimento, ver a África, por exemplo, com países com menos de 1% da população vacinada.

Estamos criando a consciência de que estamos trocando a “pandemia” por “endemia”. As pessoas querem seguir a vida e poderão fazê-lo com o menor risco na medida em que sigam os cuidados e as atitudes responsáveis aprendidas nestes últimos dois anos. Cremos que não queremos ficar mais “reclusos”, mas depende muito de nós esta conquista.

Os governos devem atualizar continuamente as políticas públicas necessárias. Tudo isto é incrivelmente dinâmico como jamais vimos ou vivenciamos. Mas os sinais do momento são estes. Apesar da disseminação nunca vista do vírus pela sua variante Ômicron, vemos que os países têm buscado alternativas, as mais seguras possíveis, para que possamos seguir a vida com a máxima mitigação dos efeitos sociais, sanitários, educacionais, econômicos e políticos.


Carmino Antonio de Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020.

Andrea Von Zubem é doutora em epidemiologia das doenças transmissíveis saúde coletiva e diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas desde 2017.


Fonte: Artigo publicado no site Hora Campinas em 15 de janeiro de 2022.




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