Apresentação

A Revista Domingueira da Saúde é uma publicação semanal do Instituto de Direito Sanitário - IDISA em homenagem ao Gilson Carvalho, o idealizador e editor durante mais de 15 anos da Domingueira da Saúde na qual encaminhava a mais de 10 mil pessoas informações e comentários a respeito do Sistema Único de Saúde e em especial de seu funcionamento e financiamento. Com a sua morte, o IDISA, do qual ele foi fundador e se manteve filiado durante toda a sua existência, com intensa participação, passou a cuidar da Domingueira hoje com mais de 15 mil leitores e agora passa a ter o formato de uma Revista virtual. A Revista Domingueira continuará o propósito inicial de Gilson Carvalho de manter todos informados a respeito do funcionamento e financiamento e outros temas da saúde pública brasileira.

Editores Chefes
Áquilas Mendes
Francisco Funcia
Lenir Santos

Conselho Editorial
Élida Graziane Pinto
Marcia Scatolin
Nelson Rodrigues dos Santos
Thiago Lopes Cardoso campos
Valéria Alpino Bigonha Salgado

ISSN 2525-8583



Domingueira Nº 19 - Maio 2020

Índice

  1. Boletim Cofin 2020/05/13/1e2A-B - por Francisco R. Funcia, Rodrigo Benevides e Carlos Ocke
  2. Pós-pandemia Covid-19: novo mundo, novos paradigmas - por Lenir Santos e Rogério Carvalho

Boletim Cofin 2020/05/13/1e2A-B

Por Francisco R. Funcia, Rodrigo Benevides e Carlos Ocke




Pós-pandemia Covid-19: novo mundo, novos paradigmas

Por Lenir Santos e Rogério Carvalho


A pandemia da Covid-19 convive com prognósticos pessimistas de desastre econômico-social e visão míope de que basta acabar o isolamento social para tudo se descongelar e ficar como antes. Essas visões se assentam em paradigmas de ontem, de um mundo de abissais desigualdades sociais; contingentes humanos desabrigados de suas nações pelas guerras locais, mendigando pelo mundo; desempregados e subempregados, os invisíveis do mercado pela sua insignificância, como o diz Yuval Harari, com o meio ambiente degradado e o consumo irrefletido.

Um mundo de desenfreada pressa, onde o tempo, o bem mais precioso pela finitude da vida, leva todos a fazer tudo ao mesmo tempo, desde conhecer 10 capitais em sete dias à realização simultânea de trabalhos diversos. Aviões e hotéis como a casa de muitos; o excesso de informações a obrigar a leitura de três jornais ao dia, inúmeros artigos e documentos. De minuto a minuto, acessar as mensagens via celular prorrogando a jornada diária de trabalho. Manter os filhos ocupados na ânsia de quanto mais conhecimento melhor. O empreender ocupando o lugar do trabalho formal com todos tendo que criar serviços próprios num futuro dominado pela IA. Reuniões infindas e cursos à distância para todos os gostos, sem tempo de ser.

Acumular na roda financeira para adquirir o supérfluo. Saímos de cinco necessidades essenciais do homo sapiens: oxigênio; água; alimento; abrigo e vestuário para iates, jatinhos e excentricidades sem fim, com o consumo a depredar a natureza. Crescer e crescer sem sustentabilidade. A ambição humana sem contenção e nem sempre a realização das necessidades essenciais da pessoa, como abrigo, alimento serem de fato satisfeitas.

Agregamos à propriedade das coisas, o conhecimento imaterial que não substituiu o outro, mas passou a ser mais um valor. Conhecimento requer reflexão, silêncio e tempo que não mais existem na sociedade do espetáculo. Por isso os aparatos de suporte individual à mente humana, os arquivos nas nuvens, todos improváveis de serem revisitados por contarem com milhares de fotos, artigos, que o tempo não permitirá assimilação.

A era do conhecimento ainda não foi capaz de mudar as concepções e formas de ser e agir; de como cooperar e ser solidário; de como por fim às guerras, que consomem trilhões de dólares, e às desigualdades sociais; aos bloqueios econômicos de países que pensam diferente e colocar a fraternidade à frente do egoísmo, com a paz não sendo uma imposição do vencedor. Usar de modo racional todas as inovações que contribuem de fato para uma vida melhor.

Já passa da hora de repensar o papel do Estado; de prover e cuidar de sistemas públicos de saúde e educação universal e do meio ambiente. Não fazer crer no mito da mão invisível do mercado como solução. É preciso cooperar globalmente sem nacionalismo segregador. É preciso reafirmar o multilateralismo e não o seu contrário.
A história está repleta de guerras armada, fria, financeira e sempre produziram um mundo injusto. A própria saúde quando se transformou em política pública na Europa foi para prevenir doenças transmissíveis, como a peste que matou por três séculos indiscriminadamente, e fortalecer a mão de obra necessária para a industrialização do século IX. Nunca por espírito humanitário.

O mundo pós-pandemia pode significar mudança de era civilizatória com novos paradigmas, com a cooperação e a fraternidade como base de seu renascimento.

As mudanças históricas serão céleres, apressadas pela mão da história, e se os paradigmas não forem mudados pela vontade do Estado e da sociedade, serão impostos por fenômenos da natureza, como um vírus invisível. É hora de o Estado repensar seu papel para futuramente atuar como mediador do mercado para conter o seu instinto selvagem; investir em ciência e tecnologia a favor do melhor viver; fortalecer o sistema universal de saúde e o meio ambiente e garantir, como medida de proteção da dignidade humana, renda mínima para quem dela precisa.

É preciso repensar as balizas do futuro próximo e deitar novos olhares sobre a civilização porque essa é a crise desse século, que traçara nova arquitetura da humanidade que só deve andar para frente, mesmo com tropeços.


Lenir Santos, advogada, doutora em saúde publica pela Unicamp e professora colaboradora da Unicamp.
Rogério Carvalho, médico, Senador da República e líder do PT no Senado.





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