Apresentação

A Revista Domingueira da Saúde é uma publicação semanal do Instituto de Direito Sanitário - IDISA em homenagem ao Gilson Carvalho, o idealizador e editor durante mais de 15 anos da Domingueira da Saúde na qual encaminhava a mais de 10 mil pessoas informações e comentários a respeito do Sistema Único de Saúde e em especial de seu funcionamento e financiamento. Com a sua morte, o IDISA, do qual ele foi fundador e se manteve filiado durante toda a sua existência, com intensa participação, passou a cuidar da Domingueira hoje com mais de 15 mil leitores e agora passa a ter o formato de uma Revista virtual. A Revista Domingueira continuará o propósito inicial de Gilson Carvalho de manter todos informados a respeito do funcionamento e financiamento e outros temas da saúde pública brasileira.

Editores Chefes
Áquilas Mendes
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Conselho Editorial
Élida Graziane Pinto
Marcia Scatolin
Nelson Rodrigues dos Santos
Thiago Lopes Cardoso campos
Valéria Alpino Bigonha Salgado

ISSN 2525-8583



Domingueira Nº 35 - Setembro 2022

Índice

  1. A Saúde Digital: onde estamos e para onde vamos - por Carmino de Souza

A Saúde Digital: onde estamos e para onde vamos

Por Carmino de Souza


Foto:Pixabay

Todos nós temos a exata noção de quanto sofremos, tudo o que perdemos em termos materiais e humanos durante a pandemia do SarsCov-2 a partir de 2020. Entretanto, durante esta fase crítica enfrentada pela humanidade o desenvolvimento da telemedicina e, no momento com termo mais atualizado, a telessaúde se desenvolveu de maneira impressionante.

Por absoluta necessidade e com tremenda solidariedade e parcerias entre inúmeros entes da sociedade tanto do Brasil como de todo mundo, esta prática foi se desenvolvendo e ocupando espaços até então impensáveis. Tendo em vista o ambiente e as exceções jurídicas e institucionais de emergência e as várias aberturas estabelecidas tanto do ponto de vista jurídico como ético, esta prática foi fortalecida e possibilitou o crescimento em diferentes áreas de atuação tais como a educação em saúde, a telemedicina e a telessaúde, a teleconsulta médica e de outros profissionais da saúde, o telemonitoramento, a segunda opinião a distância, dentre outras.

Esta prática possibilitou a quebra de barreiras geográficas e a democratização do acesso à população brasileira.

Outro aspecto muito importante desta melhoria de acesso, foi a redução de tempo e de custos da assistência à saúde e facilitou de maneira decisiva a troca de informações e de decisões entre os vários profissionais e de integração dos vários serviços e profissionais de saúde.

Por mais que tenhamos avançado nos anos recentes, este avanço ainda está limitado por fatores diversos entre eles: a infraestrutura digital para os profissionais e serviços de saúde ainda restrita, ineficiente ou até inexistente em determinadas áreas geográficas do país; as leis ligadas ao tema ainda incipientes e que devem ser aperfeiçoadas para dar segurança e legalidade ao atendimento em telessaúde, principalmente; a capacitação técnica quanto ao uso das tecnologias em saúde para os profissionais de saúde e, finalmente, a capacitação dos usuários do sistema e dos serviços de saúde quanto ao manuseio destas técnicas e tecnologias desenvolvidas e que incluem os aplicativos, as mensagens por telefonias móveis, as consultas via web etc.

Para que a telessaúde se instale definitivamente e se desenvolva continuadamente, são necessárias ações para garantir: a infraestrutura digital e acesso adequado aos prestadores de serviços; a interoperabilidade entre as várias tecnologias e sistemas com registro eletrônico; o treinamento adequado dos profissionais formados ou em fase de formação; a democratização da educação dos pacientes sobre os usos das ferramentas de telemedicina e oferta de processos de continuidade do atendimento ou “referenciamento” para o atendimento presencial e definir métricas de qualidade que possam capturar e medir os aspectos fundamentais da prestação de serviços, tais como, a infraestrutura, o acesso, a segurança, a privacidade, o desfecho e a experiência do paciente.

Fundamental ainda é o desenvolvimento de prontuário ou registro eletrônico, com informações mínimas (ou essenciais) e fundamentais ao seguimento e ao cuidado de qualquer paciente. Importante ressaltarmos, que nos anos recentes, muitos sistemas foram desenvolvidos e muitos serviços de consultórios, clínicas, ambulatórios, hospitais etc. já possuem sistemas eletrônicos de prontuários.

Entretanto, poucas são as inciativas que promovam e executem a chamada interoperabilidade dos vários sistemas. Para tal, é necessário definir um conjunto mínimo de informações que possam assegurar a continuidade do cuidado e melhorar as formas digitais de comunicação entre pacientes e profissionais de saúde.

É necessário ainda, a integração das informações entre os vários profissionais de saúde. A criação do registro eletrônico é fundamental e é uma das grandes preocupações da assistência à saúde que é a segurança do paciente. Para a concretização destes objetivos, são necessárias ações que garantam a interoperabilidade dos dados, as inúmeras integrações dos dados de exames complementares, telessaúde, comunicação, certificação digital, etc.

Todos estes dados vão exigir métricas de qualidade, validação dos vários instrumentos, suporte aos diversos usuários em nível hospitalar, ambulatorial, etc. e avaliações e aperfeiçoamentos constantes de toda esta atividade.

O desenvolvimento de um registro/prontuário único para o paciente é fundamental para melhorar a eficiência do sistema. Além disto, a sua disponibilização reduzirá custos pois, além da segurança, permitirá acesso às informações evitando-se assim, a repetição de exames e procedimentos bem como a melhoria da segurança do cuidado pelas equipes de saúde pela possibilidade do controle de dados, exames e realização de consultas.

Talvez o maior desafio será como contabilizar tudo o que já existe com as informações mínimas, mas fundamentais ao cuidado de cada cidadão onde quer que ele esteja.

Em meu período à frente da Secretaria de Saúde do Município de Campinas, apoiei o desenvolvimento e implantação do e-SUS-AB (atenção básica) em nossa rede de 67 unidades básicas de saúde e do AGHuse em nossas unidades hospitalares dos Hospitais Mario Gatti e Ouro Verde. Impressionante verificar a melhoria qualitativa e quantitativa dos dados e da eficiência do sistema a partir destas implantações.

A falta de sistema digital “reduz” a produção de serviços. Provavelmente, não há verdadeiramente uma perda ou redução de produção mais sim redução significativa do que se demonstra ao sistema a partir da gestão de dados efetuados “em papel” (sistema manual).

Na verdade, qualquer que seja a ótica desta análise, a implantação da saúde digital qualifica e melhora tudo o que é feito na saúde. Temos que, com inteligência, tecnologia e boa logística, encontrarmos as soluções para efetuarmos esta implantação em nosso país.


Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Atual secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo.


Fonte: Hora Campinas 29 de agosto de 2022




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