Apresentação

A Revista Domingueira da Saúde é uma publicação semanal do Instituto de Direito Sanitário - IDISA em homenagem ao Gilson Carvalho, o idealizador e editor durante mais de 15 anos da Domingueira da Saúde na qual encaminhava a mais de 10 mil pessoas informações e comentários a respeito do Sistema Único de Saúde e em especial de seu funcionamento e financiamento. Com a sua morte, o IDISA, do qual ele foi fundador e se manteve filiado durante toda a sua existência, com intensa participação, passou a cuidar da Domingueira hoje com mais de 15 mil leitores e agora passa a ter o formato de uma Revista virtual. A Revista Domingueira continuará o propósito inicial de Gilson Carvalho de manter todos informados a respeito do funcionamento e financiamento e outros temas da saúde pública brasileira.

Editores Chefes
Áquilas Mendes
Francisco Funcia
Lenir Santos

Conselho Editorial
Élida Graziane Pinto
Marcia Scatolin
Nelson Rodrigues dos Santos
Thiago Lopes Cardoso campos
Valéria Alpino Bigonha Salgado

ISSN 2525-8583



Domingueira Nº 43 - Dezembro 2021

Índice

  1. Vacinas salvadoras - por Carmino de Souza

Vacinas salvadoras

Por Carmino de Souza


Passados menos de dois anos do início desta dramática crise sanitária causada pelo SarsCov2, com a morte de mais de cinco milhões de pacientes em todo o mundo e mais de 610 mil mortes no Brasil, devemos fazer uma reflexão no sentido de como a ciência trabalhou para aperfeiçoar o diagnóstico, o monitoramento e o (s) tratamento (s) de suporte e de base desta grave enfermidade. Sem dúvida alguma, não fossem os esforços conjugados de toda a sociedade, tudo poderia ter sido muito pior.

Neste texto, quero enfatizar o que a humanidade pode realizar no sentido de criar e aperfeiçoar todas as vacinas contra o novo coronavírus. Um dos programas de saúde mais vitoriosos do SUS é o PNI (Plano Nacional de Imunizações). O Brasil teve importantes vitorias como a erradicação da poliomielite e a redução muito acentuada de doenças graves imuno-preveníveis como, por exemplo, o sarampo.

É de nossa tradição e de nosso orgulho, a vacinação.

Mas, sinceramente, foi impressionante acompanhar que, em menos de um ano de pandemia, nós já tínhamos vacinas produzidas e suficientemente testadas para que pudéssemos utilizar com segurança e eficiência em seres humanos. Nós comentávamos que, anteriormente a esta crise sanitária, a vacina que havia sido produzida pelos nossos pesquisadores em menor tempo havia sido a vacina para caxumba, produzida em um recorde de quatro anos. E, é claro, este fato nos preocupava.

Ainda na Secretaria Municipal de Saúde em outubro de 2020, sabíamos que o nosso Instituto Butantan já tinha 12 milhões de doses da CoronaVac em estoques para serem aplicadas tão logo a Anvisa as liberasse para uso emergencial. Sempre advoguei que isto fosse feito o mais breve possível tendo em vista a gravidade da pandemia e a segurança já demonstrada pela vacina. Nesse momento, se discutia a respeito dos estudos de fase 3 que demorariam a serem concluídos. Passado mais de um ano desse momento, o que vemos são mais de quatro bilhões de pessoas vacinadas em todo o mundo ainda que, de maneira inaceitável e indesejável, ainda muito desigual entre os vários povos e continentes, com grande abismo entre os países ricos e pobres.

A OMS e os governos soberanos poderiam ter feito mais para atenuar estas diferenças.

Entretanto, e é isto que quero enfatizar, são os impressionantes progressos no desenvolvimento e incorporação de novas vacinas. Tenho o hábito de acompanhar, praticamente todos os dias, o jornal New York Times que traz um balanço atualizado de todo o cenário da evolução da pandemia em todo o mundo, incluindo a evolução das vacinas. Temos no mundo (dados de dois de novembro/2021), de maneira muito sintética, 15 vacinas já autorizadas para usos precoce ou limitado (emergência), oito aprovadas para uso pleno e impressionantes 137 vacinas em desenvolvimento científico em fases clínicas: 50, fase I, que define segurança e dosagens; 46, fase II, que define segurança expandida e eficácia em escala limitada da vacina e; 41 em fase III, teste de eficácia em larga escala.

Além destes dados, temos nove vacinas abandonadas por baixa segurança ou eficiência, após os estudos clínicos. Quando observamos os países envolvidos, temos países de praticamente todos os continentes. Além disto, temos inúmeras vacinas em fase pré-clínica de desenvolvimento com trabalhos em células ou animais como camundongos ou macacos sempre no sentido de avaliar as respostas imunes.

Fundamentalmente, temos três plataformas de produção de vacinas sendo que em cada uma delas dezenas de vacinas estão em desenvolvimento.

Estas plataformas são: Vacinas de manipulação gênica que enviam um ou mais genes do vírus para nossas células de defesa e assim promovem a resposta imune (hoje conhecemos como vacinas de RNA); vacinas que utilizam vetores virais modificados geneticamente e que carregam os genes do coronavírus até nossas células de defesa e finalmente as vacinas baseadas em proteínas (em alguns casos todas as proteínas do vírus) do coronavírus transportados em nano partículas até nossas células de defesa.

Em cada uma destas plataformas, são dezenas de empresas, institutos e universidades envolvidas para desenvolvimento, aperfeiçoamento e adaptação das vacinas às variantes existentes. Para a população o importante é vacinar, independentemente de qual vacina esteja disponível.

Infelizmente, as coberturas vacinais não são homogêneas através do mundo e mesmo no Brasil e isto constitui-se por si só, enorme risco à eficiência da vacinação em massa. Para se ter um exemplo, nos EUA, Canadá, Europa e, felizmente, na América Latina, temos mais de 60% da população completamente vacinada.

Na Ásia, este percentual é de cerca de 55%. Entretanto e infelizmente, no Oriente Médio, a taxa é inferior a 40% e na África, menor que 10%.

A grande maioria das vacinas exige duas doses e vemos, neste momento, a ampliação do reforço vacinal com a terceira dose em vários países, inclusive no Brasil, e em vários grupos de maior vulnerabilidade. Globalmente, cerca de 50% dos habitantes da terra receberam, ao menos, uma dose de alguma destas vacinas.

O impacto da vacinação é impressionante. A redução de casos e principalmente de mortes nas populações vacinadas é muito grande.

Devemos nos regozijar do que nossos cientistas, sistemas de saúde e seus profissionais fizeram e estão fazendo. É admirável verificar este progresso e neste reduzido intervalo de tempo. Por outro lado, e que constituiu fato altamente preocupante, é o recrudescimento dos casos na Europa, neste momento. É o que está sendo chamado de “pandemia dos não vacinados”. De cada 100 pacientes em UTIs na Alemanha por Covid-19, um total de 95 não foi vacinado. Lembrar que são países com disponibilidade farta de vacinas. Não vacinar, faz parte destes movimentos irracionais e negacionistas que assombram o mundo.

Vamos continuar neste trabalho de cooperação, convencimento e aperfeiçoamento. Vencer uma epidemia já é muito difícil; vemos isto com as arboviroses, por exemplo. Mas, vencer uma pandemia desta gravidade, exige muito mais. Exige profissionalismo, competência, resiliência, comportamento individual e coletivo adequados e confiança na ciência e nos cientistas que jamais descansaram até que resultados absolutamente impressionantes fossem atingidos, nos vacinados.

Viva às vacinas!


Carmino Antonio de Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020


Fonte: Artigo publicado no site Hora Campinas em 29 de novembro de 2021




OUTRAS DOMINGUEIRAS