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27/Ago/2018

SUS é mais do que uma política de saúde pública

Desde sua criação, o Sistema Único de Saúde - SUS trouxe inúmeros avanços para a saúde pública no Brasil. É o que defende Jairnilson Silva Paim, doutor em Saúde Coletiva. “O SUS dispõe de uma rede de instituições de ensino e pesquisa que interage com os serviços de saúde, possibilitando que um conjunto de pessoas adquiram conhecimentos, habilidades e valores vinculados aos seus princípios e diretrizes”, destaca.

Para o médico, esses avanços revelam o potencial do SUS e sua própria natureza. Afinal, é preciso compreendê-lo como algo muito além de uma política de saúde pública. “O SUS é um sistema público, não um ‘sistema de saúde pública’. A integralidade da atenção supõe a articulação de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. Com o SUS, buscava-se superar o Tratado das Tordesilhas que separava a saúde pública, confinada no Ministério da Saúde, e a assistência médica prestada pela medicina previdenciária (Inamps) e pelo setor privado”, esclarece.

Segundo Jairnilson, os ataques a que o sistema vem sendo submetido parte justamente dessa lógica de o reduzir a uma política. Por isso defende que se tenha clareza nesse conceito. “Quando os conservadores, os liberais e a mídia misturam o SUS com a saúde pública não o fazem inocentemente: querem limitar o SUS ao controle de doenças e epidemias ou à profilaxia, de modo que a assistência médica fique submetida ao mercado ou, no limite, seja oferecida apenas para os pobres”. Esse erro é tão sério que é cometido até mesmo por setores mais progressistas. “Até mesmo setores de esquerda usam a expressão saúde pública em contraposição à ‘saúde privada’, caindo na armadilha de restringir o SUS conforme a ideologia dominante”, adverte.

Ainda na entrevista, concedida por e-mail à IHU On-Line, o médico observa como essa epidemia de sarampo “é um dos preços pagos pela desestruturação do SUS”. Para ele, o argumento de que as pessoas buscam menos as vacinas porque se baseiam em notícias falsas de redes sociais insuflado por movimentos como o antivacínico não serve para explicar o fenômeno em toda a população. “Será que situações desse tipo, até possíveis de serem observadas na classe média, podem ser generalizadas para o conjunto da população?”, questiona.

Jairnilson Silva Paim é graduado em Medicina, mestre em Medicina e Saúde e doutor em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. É professor de Política de Saúde do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e coordenador do Observatório de Análise Política em Saúde. Entre suas publicações estão Reforma Sanitária Brasileira: contribuição para compreensão e crítica (Salvador: Edufba/Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2008), O que é o SUS (Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009), Desafios da Saúde Coletiva no Século XXI (Salvador: Edufba, 2006), Saúde Coletiva: Teoria e Prática (Rio de Janeiro: Medbook, 2013) e a Crise da saúde pública e a utopia da Saúde Coletiva (Salvador: Casa da Qualidade, 2000).

Confira a entrevista AQUI

FONTE: http://www.ihu.unisinos.br