Endereço: Rua José Antônio Marinho, 450
Barão Geraldo - Campinas, São Paulo - Brasil
Cep: 13084-783
Fone: +55 19 3289-5751
Email: idisa@idisa.org.br
Adicionar aos Favoritos | Indique esta Página

Entrar agora no IDISA online

2017 – Domingueira da Saúde 021/2017

 

RIO OU BRASIL EM TRANSE?

Lenir Santos

 

Quem acha que a situação do Rio decorre da crise daquele Estado vê as coisas às cegas. Um Estado não desce ladeira abaixo porque teve maus governantes nos últimos mandatos. A quadrilha que assaltou o Rio faz parte de muitas quadrilhas que assaltam o país há muito.

 

A desigualdade social, um dos cartões postais do Rio, não é de hoje; é de sempre. Quem olha para o morro do Complexo da Maré percebe que o Estado brasileiro abandonou de vez o combate à desigualdade. Um povo à deriva pela sobrevivência, enquanto em Brasília se governa para os endinheirados, os financiadores de campanha, os donos do poder e para aqueles que aceitam a corrupção como prática comum. Esse modelo se espraia na Rocinha onde os mais espertos vão para o tráfico e exercitam o poder em espaços bem mais circunscritos que os de Brasília e vendem suas drogas para a elite protegida pelas políticas dos legislativos e executivos.

 

Nas últimas décadas, o crescimento exponencial das favelas no Rio, e em todas as capitais do país, é o resultado de governos que governam para atender os próprios interesses em aliança com os donos do poder econômico-financeiro.

 

O Brasil é um país onde a impunidade dos poderosos sempre fez parte de suas estruturas políticas e a desigualdade nunca trouxe incomodo, sendo lembrada apenas nos programas eleitorais e em novelas onde se romantiza a pobreza. Esquecem os poderosos que a segregação social vira no avesso os objetivos da República de erradicar a pobreza, diminuir as desigualdades sociais, alcançar a justiça social e garantir a dignidade de vida às pessoas e gera apartheid social.

 

A guerra urbana não será resolvida com o Exército nas ruas; se resolve com políticas públicas de longo prazo que permitam a todos gozar as mesmas oportunidades, mediante educação, saúde, previdência social, medidas compensatórias da pobreza lembrando que desenvolvimento econômico deve estar a serviço do desenvolvimento social para que se cumpra a Constituição que não pode ser tomada como um repositório de promessas bonitas a ser exibidas em fóruns internacionais e servir de retórica na hora de pedir voto.

 

Devemos encarar que a violência não está tão-somente em quem atira e faz guerrilha na favela e nas ruas, mas em todos aqueles que se calam ante as injustiças sociais que impedem os pobres de usufruir de renda decente, de frequentar escolas onde todos se igualem em oportunidades. Quem mata mais? A falta de escola que mata os talentos de gerações? A falta de hospitais que mata nas filas? O desemprego que nega o mínimo existencial?

 

Um Estado que não governa para o desenvolvimento social, para a erradicação das desigualdades sociais, diminuição da pobreza, para o alcance de justiça social, solidariedade e sim para angariar poder espúrio, está fadado a violência social como resposta ao que recebe. Ainda veremos muitas Rocinhas se rebelando ao modo como foram criadas: na violência do descaso político.

 

  Domingueira da Saúde 021/2017 - 01/10/2017

 



Meus Dados

Dados do Amigo

Copyright © . IDISA . Desenvolvido por W2F Publicidade