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Diários Latinoamericanos – Bolivia II

Um mergulho em La Paz

Se chega em La Paz por El Alto, uma cidade que seria a boca alta da cratera que é La Paz. El Alto, a crita da cratera, está a 4 mil metros de altitude. La Paz, o fundo da cratera, a 3 mil e 600 metros, metade do caminho entre o mar do Porto da Barra e o pico do Everest. É a capital mais alta do mundo.

O onibus nao parava de descer depois de ter subido toda a viagem. Nessa descida podia se mirar o impresionante relevo e a cor de terra: uma terra de um cinzento cor de cimento, salpicado de pedras que, com a proximidade, ganha um amarelo ouro bruto. Adentrando a cratera, muitas casas. As casas escorrem para seu centro, que coincide com o centro da cidade. Milhares de casas descendo o morro. As casas nao possuem pintura, as mais pobres sao de barro misturado com tijolos (ladrillos acá), as demais feitas com tijolo aparente. Parece um conluio entre economia, tradicao e orgullo em ter casas da cor da terra de onde elas parecem se erguer.

Ao longe se ve o nevado Illimani e a montanha Chacaltaya, cheios de neve, a 6.400 e 5.400 metros de altitude. Ao sul escorrem os rios, pois a cratera nao é perfecta, é cratera vazada que ao longo dos anos marcou as pedras da capital produzindo uma formacao rocosa chamada Vale da Lua, cujo criativo nome nao conseguiu, nem de longe, representar a singularidade e beleza do lugar.

Demorando muito na mirada para o alto, deixando a noite cair, junto com as primeiras estrelas, surgem contelacoes inteiras ao teu redor: para quem ja viu a rocinha salpicada de estrelas quase como um ceu estrelado caindo sobre Sao Conrado, imaginem, 5, 10, 20 rocinhas, circundando a cidade e produzindo na noite um espetáculo mais bonito que o céu original. A cidade cresce na pedra, enche a pedra de luz e de beleza e, certamente de um lamento que, cá de baixo, nao de consegue ouvir.

De dia a cidade, em seu centro, é atravesada por estreitas ruas onde se enfileiram carros a sumir de vista provocando um buzinasso intermitente que parece ser a versao boliviana da tortura chinesa. Quase nao se ve carros particulares. Chutaria que 80% sao micro-onibus, vans e carros de passeio que funcionam tanto como onibus de linha (com numeros, placas, paradas e tudo) quanto taxis. É proibido carros particulares no centro? O imposto é muito caro? Ha alguna lei que coibi o uso de carro particular? Alem de um rodizo parecido com Sao Paulo, a explicacao das pessoas foi: comodidade, consciencia de que a cidade esta cheia de carros e o preco atraente do transporte publico.

Saimos da praca que recebia o rei da espanha e onde esta a sede do Governo e o Congresso Nacional daqui, fomos a um mirante, passamos pelo famoso estádio que tira o folego de todas as selecoes que aquí jogam, paseamos por Miraflores e pela Zona Sur (bairros nobres da cidade), passamos em frente a faculdade de medicina, ao Hospital das Clínicas, descemos em direcao as gargantas rochosas e ao Vale da Lua, voltamos e tudo isso durou uma excelente conversa com o taxista, 2 horas e menos de 30 reais (80 bolivianos acá).

“Sin embargo”, andar a pé em La Paz é sem dúvida o mais gostoso. As ruas sao abarrotas de vendedores ambulantes: se compra pedras, roupas, comida, eletronicos, amuletos magicos, fetos de Lhamas, ervas afrodisíacas, a sorte lida por feiticeiros em folhas de coca… de tudo no meio da rua.

Nos cafés, efeitos da colonizacao hispanica: muita tortilla, empanadas de todos os tipos e saltenhas. Mas a base da alimentacao é o arroz e o fidel (que ainda nao descobri o que é, aguardem…), na sequencia batatas, mandioca e produtos a base de milho. Aquí tem uma especie de pamonha o tamal, e ate pao de queijo (a descoberta culinaria mais importante para um mineiro) o cunhapé. As carnes mais comidas sao a de boi e o frango, mas se come muito porco e lhama também, que, alias, antes que se pergunte, tem gosto de lhama.

Nas ruas se ve varios CD s. Muita “musica latina”, alias, o genero musical mais ouvido aquí. Entre os brasileños se ve nas bancas Roberto Carlos, Milton, Maria Bethania, su hermano e Bossa Nova. Num bar ouvimos o Djavan em outra lingua e em outra voz… Tocando nas ruas muita musica folclorica, como a cueca, tocada por indios abandonados á sorte em busca de moedas de um mao displicente ou de um sorriso de um bolso mais avarento. Jurou-me um taxista que a musica mais ouvida pelos jovens é o hip-hop! Em que lengua, perguntei. Castellano, contestou. Da Bolivia, continuei. De toda a america, me invejou ele com essa mania dos latinoamericanos que nao os brasileiros de serem latinoamericanos.

E qual o esporte mais popular, perguntei-me. Bastou assistir meia hora de TV e comprar um jornal para ver. O resultado do campeonato brasileiro ganando uma pagina do jornal me fez ver que estao atentos a gente. Uma crianca jogando bola na rua com o uniforme do meu time, o Cruzeiro, me fez ver que reconhecem o que é muito bom. Contudo, modestamente e com a simplicidade que os caracteriza, me respondeu um boliviano: gostamos mucho, pero, em verdade, nao somos bons…

Caminando nas ruas, explorando a cidade, nao passei despercebido: as pessoas me miravam com frecuencia. Que tipo diferente, imaginava eu que pensavam elas. De fato, tirando um estrangeiro que vi ante-ontem e uma menina que vi hoje, sou a pessoas com tracos mais negros dentre as que vi. Tem pessoas com pele mais escura, afinal, as peles indígenas que caminham por aquí sao de um vermelho anegrado que chama a atencao. Mas, mais atencao que os meus cabelos crespos que contrasta com o negrume liso-grosso dos cabelos daqui, chama sao os olhos verdes da Érica. Brancos? Tirando os varios turistas franceses, mesmo usando um conceito alargado de “branco” como tem o Brasil, chuto que menos de 5% das pessoas podem ser empurradas por esse criterio.

Em todos os lugares que andamos, perguntam-nos se somos brasileños. Uns descobrem pelo “acento” dado ao portunhol, outro, antes que falacemos, arriscou. Como, perguntei. A cor de sua pele e o fato das brasileiras serem as chicas mais belas… cantou a Érica ainda o safado…

Visitando os longos mercados de artesanato, conhecendo o museu da coca e o museu etnográfico, conhecendo os tecidos, a ceramica, as fetsas, musicas e mascaras desses povo formado por mais de 32 etnias, buscando beber da historia desse povo que sobreviveu ao invasor branco e que criou condicoes para viver nas altitudes, no frio e na fome. Percebendo a riqueza da producao cultural e diversidade de linguas e costumes de todos que sao chamados de indios. Vendo e deixando me invadir com toda aquela beleza… Doeu perceber que o padrao de beleza aquí é o branco europeu, como atesta todos modelos sorridentes nas propagandas e comercias; doeu perceber o preconceito contra o indio, de quem se pensa um pouco menos índio; foi duro ver as tentativas de segmentacao e diferenciacao; o racismo onde eu, ingenuamente, nao o achava possivel.

A vitoria de Evo Morales, as acoes de seu governo, a postura afirmativa do movimento, politico e cultural, ligado ao MAS (Movimento ao Socialismo), estao produzindo movimentos e mudancas nessa triste paisagem…

Buscando entender mais isso, surgiram reflexoes, fatos e dialogos que serao a base do proximo e-mail desse Diário de lan house, alias, casas de “llamadas e Internet”….

Heider pinto, de Salvador. SES



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