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Para onde aponta o funil, O Gargalo do SUS

Sylvain Levy


Dois assuntos debatidos na última Conferência Nacional de Saúde tiveram grande repercussão, tanto entre os participantes como na mídia. A questão sobre a regulamentação do aborto, já permitido na legislação, e a gestão dos recursos humanos do SUS, com as propostas do Ministério da Saúde em criar organismos não estatais para administrar as redes de prestação de serviços à população.


A primeira tem uma grande repercussão para “fora” do SUS, notadamente dos grupos religiosos, e com alto impacto na população em geral. A segunda para “dentro”, com intensa mobilização das centrais sindicais e demais entidades de representação dos trabalhadores do setor.


Antes de mais nada é imperioso fazer o registro que esta foi a 13ª Conferência Nacional de Saúde, a sexta que ocorre num período de 19 anos, cumprindo com folga o estabelecido nas Leis 8080 e 8142, que determinam sua realização a cada quatro anos. Seria infeliz e inconseqüente louvar o Ministério da Saúde apenas por cumprir a Lei, mesmo nesses tempos em que vivemos, onde o desrespeito parece regra e seu cumprimento não é percebido como uma conseqüência natural da aplicação de normas de civilização e civilidade. Entretanto as Conferências têm sido muito mais que simples obediência às leis, elas têm sido fórum de debates onde a sociedade expõe suas idéias, seus anseios e suas necessidades.


A sociedade fala e é ouvida. O governo fala, ouve e pondera. A sociedade exige e o governo tem que dar respostas. É a execução da sonhada democracia participativa.


Essa participação da comunidade, como, aliás, determina a Constituição para diversos setores e que parece mais operante na saúde, consegue estabelecer um diálogo constante e permanente entre a sociedade e administração pública, o que também ocorre nos Conselhos de Saúde – no Nacional, nos 27 Conselhos Estaduais e nos 5562 Municipais.


Atualmente, nem o mais empedernido crítico do SUS, avalia que é possível melhorar e consolidar suas conquistas sem a efetiva participação da comunidade.


Existe o reconhecimento que um dos grandes, se não o maior, gargalo do sistema no momento, é o aproveitamento deficiente dos recursos humanos do SUS para atendimento das necessidades da população. Ou seja, a população não está sendo bem atendida pelos trabalhadores do setor.


As conseqüências de anos de ausência de investimentos numa política de valorização dos e nos recursos humanos do SUS podem ser descritas assim: baixos salários, acúmulo de empregos, falta de cumprimento de horários, assiduidade precária e sem controle, número insuficientes de profissionais, falta de programas de treinamento, aposentadorias não programadas, não realização de concursos públicos e, quando esses ocorrem, procura reduzida pelos empregos.

Os resultados estão à mostra: baixa eficiência, pouca resolutividade, eficácia pulverizada, desestímulo e desinteresse dos profissionais, mau atendimento, insatisfação generalizada, reclamações, impossibilidades orçamentárias, operacionais e legais para a solução, etc, etc e tal.


Razões, como dizia Sheakspeare, são como frutas silvestres, dão em qualquer lugar. Todos têm a sua dose de razão. Mas, se estão todos descontentes – população, trabalhadores e gestores do sistema é sinal que o modelo atual está esgotado.


Nessas discussões, tanto no Conselho como na Conferência Nacional de Saúde, tem sido notada a não referência (que é o equivalente a uma negação), a uma realidade existente no âmbito interno do próprio Ministério da Saúde e do SUS. Trata-se da Associação das Pioneiras Sociais (APS) - entidade de serviço social autônomo, de direito privado e sem fins lucrativos. È a instituição gestora da Rede SARAH de Hospitais do Aparelho Locomotor. A Associação foi criada em 1991 pela Lei nº 8.246, e o caráter autônomo da gestão desse serviço público de saúde faz da Associação a primeira instituição pública não-estatal brasileira.


Um dos pontos enfatizados pelo Ministro Temporão para a criação das fundações públicas foi, justamente, a possibilidade de estabelecer um contrato de gestão que explicitaria os objetivos, as metas e os prazos a serem cumpridos pela instituição prestadora do serviço, o que já ocorre com a APS, desde 1991.


Mas o mais interessante da administração da Rede Sarah é uma inovação na esfera de gestão de pessoal. Todos os trabalhadores, sejam graduados ou não, médicos, enfermeiros, técnicos ou auxiliares, devem ter um único emprego e trabalhar apenas para a Rede Sarah. A dedicação é única e exclusiva.


Talvez, antes de detalhar a esfera de gestão, se estatal ou pública, seja possível discutir a concretização de um emprego único para os trabalhadores da saúde. Emprego único para todo o SUS, com carreiras diferenciadas que permitam o desenvolvimento harmônico e a progressão funcional de todos os componentes da força de trabalho do Sistema Único de Saúde. Emprego digno, com salário recompensador, para prestar assistência decente.



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