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2013 - 35 - 689 - DOMINGUEIRA - MAIS MÉDICOS (2) & FINANCIAMENTO (223) -9-9-2013

1. PRIMEIRA PÁGINA – TEXTOS DE GILSON CARVALHO
 GASTOS PÚBLICOS COM SAÚDE EM 2012 
Gilson Carvalho 
RESUMO EXECUTIVO PRELIMINAR 
 
 
VALORES DECLARADOS GASTO SAÚDE BRASIL - 2012
FONTES
R$ BI
% PP
PC-R$
%PIB
FEDERAL     
80,06
46
413
1,8%
ESTADUAL  
44,70
26
230
1,0%
MUNICIPAL
50,21
29
259
1,2%
TOTAL  PÚBLICO
174,97
100
902
4,0%
FONTE: MS-SPO – MS-SIOPS;POP IBGE-193,98 MI; PIB-MF -4,4 TRI  ESTUDOS GC
 
 
COMENTÁRIOS:
 
1.     Estes dados são aqueles declarados pelos próprios gestores de cada esfera de governo e seus setores de planejamento e orçamento. Não têm portanto, análise nem auditoria de números.
2.     Os dados do Ministério da Saúde são aqueles fornecidos pela Sub Secretaria de Planejamento e Orçamento.
3.     Os dados de Estados e Municípios são fornecidos pelo SIOPS.
4.     Os dados estaduais trazem dados de todos os Estados e do DF.
5.     Aos dados Municipais falta a informação de cerca de 600 municípios o que leva a próximo de  90% o número de municípios que informaram. Presume-se que a maioria dos que anda não informaram sejam municípios de pequeno porte.
6.     Os municípios, a cada ano, vem aumentando sua participação no financiamento público da saúde chegando neste ano a 29% com R$256 per capita de um total público per capita de R$888.
7.     A União proporcionalmente vem decrescendo sua participação entrando em 2012 apenas com 46% dos recursos públicos.
8.     A participação em relação ao PIB de R$4,4 trilhões de reais continua pífia com apenas 4%, praticamente a metade do gasto dos países com sistemas de saúde universais.
9.     Nos estudos preliminares os municípios continuam investindo em saúde 43%  a mais que o mínimo de 15% determinado pela LC 141. Chegaram ao percentual de 21,45% de receitas próprias.
10. Paralelamente a isto os Estados investiram em média 12,69%  de sua receita própria, poucos décimos a mais que o mínimo de 12%. Os Estados do Rio Grande do Sul e Paraná são aqueles que ainda não investem o mínimo legal de 12%, chegando  apenas a pouco mais de 9%.
11. Os dados populacionais considerados no primeiro estudo como 196 mi (estimativa inicial do IBGE e encontrada no IPEADATA) foram reestimados oficialmente em 193,98 mi valor que agora será utilizado, por mim, para o ano de 2013.
 
 
2. SEGUNDA PÁGINA – TEXTO DE CONVIDADOS    –    OS TEXTOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DOS AUTORES.
“MAIS MÉDICOS”: MAIS? DO MESMO?
 
FLAVIO GOULART
O programa Mais Médicos, do Governo Federal, está na ordem do dia. Seus primeiros resultados, mostrando preenchimento de apenas 6% das vagas disponíveis e assim mesmo em municípios que já possuíam médicos e que não se situam entre os que apresentam índices de desenvolvimento mais baixos, não parecem muito convincentes. O salário oferecido, embora bem maior do que o da maioria da população de trabalhadores no país, ainda é bastante inferior, em pelo menos 50%, em relação àquilo que um médico jovem e bem disposto (e alguns menos jovens e menos dispostos também...) conseguem auferir à custa de plantões sucessivos e de empregos pulverizados, principalmente nas grandes e médias cidades do país. Realmente parece um fracasso de público e de crítica, mas ressalve-se, é claro, o eterno otimismo das autoridades da Esplanada.
 
Mas não é isso que conta, na verdade. O problema está, também, nos argumentos que são oferecidos, através da imprensa, das redes sociais e da comunicação oficial, para explicar a necessidade, o sucesso ou o fracasso de tal iniciativa.
 
Em primeiro lugar, vamos combinar: faltam médicos no Brasil, realmente. Mas uma pergunta que não quer se calar diz respeito à quantidade versus a qualidade dos que estão no cenário. É bom tentar responder a tal quesito verdadeiramente “diabólico”, mas vamos deixar para o final.
Os argumentos, ah, os argumentos... Podemos classificá-los em três porções. Há os simplistas, os corporativistas e os partidaristas. Só não há, ou isso se apresenta em doses muito pequenas, argumentos realistas.
 
Exemplo típico de argumento simplista é aquele professado pelos prefeitos municipais. Eles querem “mais médicos” e ponto! Mais muitos desconversam se o assunto descamba para tópicos como concurso público, carreira, condições de trabalho, formação de equipes etc. Fogem de tal discussão, mas em contrapartida aderem e aprovam com ardor algumas ações tradicionais no meio político brasileiro, por exemplo, a compra de ambulâncias, as inaugurações precipitadas e a abertura de serviços especializados, sem maiores preocupações com a manutenção e a continuidade dos mesmos. Querem, com certeza, mais médicos, mas que estes se lhes tornem agradecidos pela benesse do emprego público municipal oferecido, geralmente sem concurso, e que a retribuam de forma adequada quando chegarem as eleições... Depois reclamam que os doutores são muito exigentes e vivem mudando de emprego e de cidade.
 
Outro argumento simplista, para não dizer simplório é aquele emanado (e muitas vezes filtrado por determinados interesses) da opinião pública, ou do senso comum, melhor dizendo. Este, entretanto, diferente daquele dos políticos, tem base mais legítima. O povo quer mais médicos mesmo, justamente porque tem enormes dificuldades de acesso a tal benefício. Mas, em contrapartida, muitas vezes enxerga na vinda destes profissionais nada mais do que a possibilidade de que um velho regime de práticas seja devidamente ativado e incrementado. Por exemplo, daquelas práticas de pedir exames e fazer encaminhamentos “sem mais”; de atender rapidamente e com alta produtividade; de receitar remédios realmente “bons”, comprados na farmácia, sem aquela lenga-lenga de ficar falando em dieta, exercícios, chazinhos de quintal, banhos de assento e coisas assim. Como ouvi de uma paciente, há alguns anos, a respeito da implantação recente da Saúde da Família em seu bairro: “gostei não seu moço; eles ‘ispicula’ demais da vida da gente”...
 
No campo corporativo, os argumentos se acumulam ad nauseam: “ninguém foi consultado sobre isso; é preciso dar oportunidade aos médicos brasileiros; faltam condições de trabalho (não muito bem definidas); os salários não compensam; é preciso respeitar o direito de trabalhar onde se quer; os médicos que virão de fora são mal formados; a autonomia profissional é sagrada; a especialização é necessária”, entre outros, da mesma extração. Podem até serem legítimos, alguns deles, mas a resposta que oferecem (quando o fazem...) às iniciativas governamentais, como é o caso do programa “Mais Médicos”, é de uma mediocridade e de uma alienação de doer... Querem que se ofereçam condições, salários, equipamentos, lei do Ato Médico e tudo mais que se pode desejar. Mas são incapazes de uma só palavra que contemple os interesses de quem não usa jaleco e está do outro lado da mesinha do consultório. Assim, por exemplo: existiria alguma preocupação com mais compromisso com saúde do cidadão; com melhoria de indicadores; com responsabilização; com humanização no trato com as pessoas; com mais resolutividade, menos solicitações de exames e menos dependência tecnológica e farmacológica; com trabalho em equipe? Nem pensar... O modelo que aí está já deve ser satisfatório, na visão da corporação. Afinal, basta aumentar os salários e melhorar o campo de trabalho para os médicos que tudo se resolve.
 
Bom exemplo do argumento corporativista é aquele perpetrado recentemente por um alto dirigente da categoria: que a vinda dos médicos cubanos não era bem vinda porque a formação destes deixaria a desejar, sendo, além do mais, muito focalizada no generalismo, com pequena ênfase na especialização. Mas e aquela que é praticada no Brasil, seu doutor, lhe é bem vinda, seria desejável, viria ao encontro de nossos problemas reais? Aguarda-se uma resposta...
 
Tem também o argumento partisan, ou partidartista. Ele é bem conhecido também e pode ser traduzido pelas máximas que sempre se iniciam pela histórica frase “nunca dantes neste país...”. Ah, a lógica militante... Ela simplesmente divide o mundo em pedaços e, a partir daí, confunde “o mundo”, em sua totalidade, com cada “pedacinho” que se cria a partir dele. Tal lógica, também, não costuma admitir meios-termos, funcionando muito na base do preto no branco e “oito ou oitenta”. Não costuma ver, ainda, o outro lado que existe em quase tudo que seja obra humana, apesar de exemplos históricos que saltam à vista. Aliás, “história”, para os militantes típicos, é algo que deve ser considerado apenas se mostrar argumentos favoráveis àquilo pelo que se milita; caso contrário, passa por mero produto de manipulação de militantes contrários ou, de forma mais genérica, “deles”, dos “outros” – entidades míticas demonizadas no mundo militante.
Assim é que as autoridades da Saúde, do alto do Blogo G da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, acreditam que o atendimento, no programa que ora acalentam com ardor militante, a apenas seis por cento das vagas e a falta de cobertura a municípios pobres e sem médicos é coisa normal. Ou melhor, representam apenas uma primeira etapa de um processo que acabará nos levar a um mundo glorioso. “Penso logo existe, parece ser a palavra de ordem (mais uma das inúmeras palavras de ordem do mundo militante) que move essas pessoas.
 
No meio de tanta insensatez, já é hora de convocar argumentos mais apoiados pela realidade. É o que tentarei fazer agora, voltando ao ponto de partida: mais médicos, simplesmente? Ou médicos de outra qualidade? Porque, é bom que se diga, estas são questões totalmente estranhas à falação que se estabeleceu no país em torno do famigerado programa do Governo Federal.
 
A questão poderia ser traduzida por uma pergunta simples, embora, mais uma vez, um tanto diabólica: “para quem o sistema educacional forma médicos no Brasil, historicamente”? Para o SUS certamente não é... Erra, todavia, quem diz que é para a classe alta. A verdade é uma só: o sistema, com raríssimas exceções, forma médicos para ... concorrerem às residências médicas. Portanto, erra também quem pensa que é para atender as necessidades de alguma parcela, pobre ou rica, da população. É claro que esta opção, a de cair de cara na realidade, logo ao sair da faculdade, é a da maioria dos egressos, pois não há vagas para todos na referida nova (e obrigatória) etapa da formação médica. Estes últimos vão ocupar as vagas abertas no sistema de saúde, geralmente na Estratégia Saúde da Família, com, sem ou apesar de concurso público, e aí ficam por um ou dois anos, tentando outro “vestibular” em suas vidas, a entrada na famosa residência. E uma coisa é certa: não são pessoas bem qualificadas para o mister de cuidar da saúde das pessoas, não só em termos técnicos (levantamento recente realizado em São Paulo revelou que nem a metade sabe tratar uma faringite corretamente), nem políticos e muito menos éticos e humanos.
 
Mais médicos, então seria a solução? Se forem do mesmo feitio dos que estão aí, certamente que não! É preciso adicionar valor à presente discussão, desejável por um lado, mas muito marcada pela improvisação, pela simploriedade e pelo corporativismo profissional e ideológico, de outro. Não adianta ter “mais” médicos apenas, mas também profissionais de melhor qualidade, a ser adquirida na etapa de formação.
 
Algumas propostas do próprio Ministério da Saúde, ainda tímidas em seus resultados, pela dose de voluntarismo presente e pelos limites impostos pela “autonomia” universitária, ainda precisam ser mais bem exploradas. Há pelo menos dois programas em curso, certamente mais consensuais e mais promissores do que este “Mais Médicos” em sua formulação atual.  Refiro-me ao Pró-Saúde e ao Provab. O primeiro  coloca incentivos ás Faculdades de Medicina que desejam, de fato, melhorar seus currículos, tornando-os mais adequados ás necessidades da sociedade e do sistema de saúde do país, que pode, sim, constituírem fatores compatíveis entre si, ao contrário do que pensam as autoridades da corporação medica. O segundo incentiva os recém formados a trabalhar nos grotões, mediante processos de remuneração digna e supervisão pedagógica, embora falhe, por ora pelo menos, na garantia de continuidade para a vinculação duradoura do médico à comunidade.
 
Tudo isso representa um desafio que tem sido enfrentado por diversos países do mundo e sobre este tema há luzes e evidências universais. Não é necessário inventar a roda, portanto. Há muitos aspectos que já se encontram presentes nas grades curriculares de muitas faculdades de medicina pelo mundo a fora, inclusive no Brasil. Entre estes, podem ser citados: a antecipação do contato com a prática; o ensino baseado em problemas; a interação com os serviços públicos “reais” durante a formação; integração de conteúdos do ciclo básico e profissional; a ampliação do estágio final; a adição de conteúdos derivados das ciências humanas e sociais; a promoção do debate e do aprofundamento relativo às políticas de saúde; a introdução de conteúdos relativos à atenção primária à saúde e às práticas integrais e generalistas; a valorização das evidências na prática clínica; a extrapolação da moldura canônica “alopática”; o acompanhamento de grupos de alunos por tutores sintonizados e comprometidos não com as especialidades médicas, mas com o processo de formação técnica e ética de seus pupilos; o aprofundamento sobre os sentidos éticos e filosóficos da medicina; a promoção de posturas críticas relativas à dependência tecnológica e farmacológica, além de muitos outros.
 
Fica sempre a dúvida a respeito de como ensinar medicina de forma inovadora com professores que ainda são formados da maneira antiga – e que professam ideias marcadas pelo anacronismo, pela desatualização conceitual e até mesmo pelo preconceito (contra o SUS, por exemplo). Mas isso é um processo histórico que, espera-se, venha a ser superado algum dia.
O Brasil certamente precisa de mais médicos, mas também precisa de doutores bem qualificados, formados dentro de uma mentalidade diferente, na qual o compromisso social esteja acima – bem acima! – das injunções corporativas. Precisa-se, também, de políticas mais conseqüentes, de agentes políticos mais responsáveis, de corporações mais sensíveis e menos agressivas e, principalmente, de cidadãos mais bem informa
FLAVIO GOULART
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3. NOTÍCIAS
3.1 DAVID OLIVEIRA DE SOUZA: CARTA AIOS MÉDICOS CUBANOS -  FSP–31-8-2013
Bem-vindos, médicos cubanos. Vocês serão muito importantes para o Brasil. A falta de médicos em áreas remotas e periféricas tem deixado nossa população em situação difícil. Não se preocupem com a hostilidade de parte de nossos colegas. Ela será amplamente compensada pela acolhida calorosa nas comunidades das quais vocês vieram cuidar.
 
A sua chegada responde a um imperativo humanitário que não pode esperar. Em Sergipe, por exemplo, o menor Estado do Brasil, é fácil se deslocar da capital para o interior. Ainda assim, há centenas de postos de trabalho ociosos, mesmo em unidades de saúde equipadas e em boas condições.
 
Caros colegas de Cuba, é correto que nós médicos brasileiros lutemos por carreira de Estado, melhor estrutura de trabalho e mais financiamento para a saúde. É compreensível que muitos optemos por viver em grandes centros urbanos, e não em áreas rurais sem os mesmos atrativos. É aceitável que parte de nós não deseje transitar nas periferias inseguras e sem saneamento. O que não é justo é tentar impedir que vocês e outros colegas brasileiros que podem e desejam cuidar dessas pessoas façam isso. Essa postura nos diminui como corporação, causa vergonha e enfraquece nossas bandeiras junto à sociedade.
 
Talvez vocês já saibam que a principal causa de morte no Brasil são as doenças do aparelho circulatório. Temos um alto índice de internações hospitalares sensíveis à atenção primária, ou seja, que poderiam ter sido evitadas por um atendimento simples caso houvesse médico no posto de saúde.
 
Será bom vê-los diagnosticar apenas com estetoscópio, aparelho de pressão e exames básicos pais e mães de família hipertensos ou diabéticos e evitar, assim, que deixem seus filhos precocemente por derrame ou por infarto.
 
Será bom vê-los prevenindo a sífilis congênita, causa de graves sequelas em tantos bebês brasileiros somente porque suas mães não tiveram acesso a um médico que as tratasse com a secular penicilina.
 
Será bom ver o alívio que mães ribeirinhas ou das favelas sentirão ao vê-los prescrever antibiótico a seus filhos após diagnosticar uma pneumonia. O mesmo vale para gastroenterites, crises de asma e tantos diagnósticos para os quais bastam o médico e seu estetoscópio.
 
Não se pode negar que vocês também enfrentarão problemas. A chamada "atenção especializada de média complexidade" é um grande gargalo na saúde pública brasileira. A depender do local onde estejam, a dificuldade de se conseguir exame de imagem, cirurgias eletivas e consultas com especialista para casos mais complicados será imensa. Que isso não seja razão para desânimo. A presença de vocês criará demandas antes inexistentes e os governos serão mais pressionados pelas populações.
 
Para os que ainda não falam o português com perfeição, um consolo. Um médico paulistano ou carioca em certos locais do Nordeste também terá problemas. Vai precisar aprender que quando alguém diz que está com a testa "xuxando" tem, na verdade, uma dor de cabeça que pulsa. Ou ainda que um peito "afulviando" nada mais é do que asia. O útero é chamado de "dona do corpo". A dor em pontada é uma dor "abiudando" (derivado de abelha).
 
Já atuei como médico estrangeiro em diversos países e vi muitas vezes a expressão de alívio no rosto de pessoas para as quais eu não sabia dizer sequer bom dia --situação muito diferente da de vocês, já que nossos idiomas são similares.
 
O mais recente argumento contra sua vinda ao nosso país é o fato de que estariam sendo explorados. Falou-se até em trabalho escravo. A Organização Pan-americana de Saúde (Opas) com um século de experiência, seria cúmplice, já que assinou termo de cooperação com o governo brasileiro.
 
Seus rostos sorridentes nos aeroportos negam com veemência essas hipóteses. Em nome de nosso povo e de boa parte de nossos médicos, só me resta dizer com convicção: Um abraço fraterno e muchas gracias.
 
DAVID OLIVEIRA DE SOUZA, 38, é médico e professor do Instituto de Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês. Foi diretor médico do Médicos Sem Fronteiras no Brasil (2007-2010)
 
3.2 SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES DE HOSTILIDADE CONTRA OS MÉDICOS CUBANOS   - NELSON RODRIGUES DOS SANTOS
 
A cautela com os ângulos questionáveis do programa Mais Médicos, nada  tem a ver com essas manifestações corporativo/mercantilistas/agressivas contra colegas estrangeiros que optam nele trabalhar, sejam sob relações de trabalho nacionais ou dos seus países de origem, sob as normas legais  das relações externas, nesta segunda alternativa, com ajustes e compensações voltados para uma faixa de equivalência das remunerações para o mesmo trabalho.
 Os ângulos questionáveis referem-se a possibilidade do Mais Médicos diluir-se no tempo, em estratégia de política pública focalizada e compensatória, descolada ou substitutiva de compromissos transparentes e medidas concretas voltados para o financiamento e gestão pública de um modelo de atenção à saúde  com base nos direitos sociais de cidadania, universal e equitativo, e não somente nos direitos dos consumidores de um mercado subsidiado com recursos públicos.
 
Essa claríssima análise de Jacob Blinder, reforçou a torcida para que o exemplo dos bravos colegas cubanos ajude a ampliação e consistência das forças pró-SUS na construção do Mais Atenção Básica à saúde (cobertura e resolutividade), do Mais Regionalização da Atenção Integral à Saúde e  do Mais SUS, com adesão e realização profissional e pessoal dos seus recursos humanos.
 
Torcida, militância e apreensão: aí está o SUS+10, que mesmo vitorioso,  ainda nos mantém abaixo do Uruguai, Argentina, Chile e Costa Rica em financiamento público da saúde. Os 10% da Receita Corrente Bruta da União para o SUS constituem  indicador da real prioridade da política  de Estado para a saúde, e a "troyka" MF/MPOG/MCC está ensaiando a entrada da RCL no lugar da RCB, o que subtrairá possível "vitória" de qualquer  impacto capaz de retomar o rumo da construção do SUS. Com 10% da RCB haverá alguma chance de, com muita luta, conseguir esse impacto.
 
Veja artigo de  Jacob Blinder (Clique aqui)
 
Assine petição pública de desagravo  http://www.peticaopublica.com.br/?pi=Medicos 
 
3.3  POUCO MAIS SOBRE OS MÉDICOS CUBANOS
 
Especialista em estudos cubanos, o jornalista Hélio Doyle explica por que a remuneração dos profissionais de saúde de Cuba é paga diretamente ao governo de Raúl Castro; em primeiro lugar, porque os médicos, servidores públicos cubanos, estão vindo em missão oficial,  e não como pessoas físicas; além disso, na sociedade cubana, é aceita a tese de que os ganhos com a exportação de serviços devem ser compartilhados entre toda a população; situação é análoga à de empresas brasileiras de engenharia que prestam serviços no exterior, onde a remuneração dos engenheiros é paga pelas construtoras, e não pelos governos; artigo é resposta clara à crítica conservadora 25 de Agosto de 2013
Brasil 247 - **Autor de uma série de artigos sobre a vinda dos médicos cubanos, reunidos no 247 sob o título O que você precisa saber sobre médicos 
o jornalista Hélio Doyle publicou neste domingo uma resposta clara aos jornalistas e críticos do programa Mais Médicos que apontam escravidão na vinda de profissionais de saúde daquele país. Leia abaixo:

UM POUCO MAIS SOBRE OS MÉDICOS CUBANOS
 
Parece que o último argumento contra a contratação dos médicos cubanos é a remuneração que vão receber. Pois é ridículo, quando prevalecem fatos, indicadores internacionais e números, falar mal do sistema de saúde e da qualidade dos médicos de Cuba. A revalidação de diploma também não é argumento, pois os médicos estrangeiros trabalharão em atividades definidas e por tempo determinado, nos termos do programa do governo federal. Não tem o menor sentido, também, dizer que os cubanos não se entenderão com os brasileiros por causa da língua - primeiro, porque vários deles falam o português e o portunhol, segundo porque os médicos cubanos estão acostumados a trabalhar em países em que a língua falada é o inglês, o francês, o português e dialetos africanos, e nunca isso foi entrave.
 
Resta, assim, a forma de contratação e, mais uma vez sem medo do ridículo, falam até de trabalho escravo. Essa restrição também não tem procedência, nem por argumentos morais ou éticos (e em boa parte hipócritas), nem com base na legislação brasileira e internacional.
 
Vamos a duas situações hipotéticas, embora ocorram rotineiramente.
 
1 - Uma empreiteira brasileira é contratada por um governo de país europeu para uma obra. Essa empreiteira vai receber euros por esse trabalho e levar àquele país, por tempo determinado, alguns engenheiros, geólogos, operários especializados e funcionários administrativos, todos eles empregados na empreiteira no Brasil. Encerrado o contrato no país europeu, todos voltarão ao Brasil com seus empregos assegurados. Quem vai definir a remuneração desses empregados da empreiteira e pagá-los, ela ou o governo do país europeu? É óbvio que é a empreiteira.
 
2 - Os governos do Brasil e de um país africano assinam um acordo para que uma empresa estatal brasileira envie profissionais de seu quadro àquele país para dar assistência técnica a pequenos agricultores. O governo brasileiro será remunerado em dólares pelo governo africano. A estatal brasileira designará alguns de seus funcionários para residir e trabalhar temporariamente no país africano. Quem vai definir a remuneração dos servidores da empresa estatal brasileira e lhes fará o pagamento, a estatal brasileira ou o governo do país africano? É óbvio que é a empresa estatal brasileira. Por que, então, tem de ser diferente com os médicos cubanos? Eles não estão vindo para o Brasil como pessoas físicas, nem estão desempregados. São servidores públicos do governo de Cuba, trabalham para o Estado e por ele são remunerados. Quando termina a missão no Brasil (ou em qualquer outros dos mais de 60 países em que trabalham), voltam para Cuba e para seus empregos públicos. Não teria o menor sentido, assim, que esses médicos, formados em Cuba e servidores públicos cubanos, fossem cedidos pelo governo de Cuba para trabalhar no Brasil como se fossem pessoas físicas sendo contratadas. 
 
Para isso, eles teriam de deixar seus postos no governo de Cuba. Como não faria sentido que os empregados da empreiteira contratada na Europa ou da estatal contratada na África assinassem contratos e fossem remunerados diretamente pelos governos desses países.  Trata-se de uma prestação de serviços por parte de Cuba, feita, como é natural, por profissionais dos quadros de saúde daquele país. A outra crítica é quanto à remuneração dos médicos cubanos. Embora menor do que a que receberão os brasileiros e estrangeiros contratados como pessoas físicas, está dentro dos padrões de Cuba e não discrepa substancialmente do que recebem seus colegas que trabalham no arquipélago.
 
É mais, mas não muito mais. Não tem o menor sentido, na realidade cubana, que um médico de seus serviços de saúde, trabalhando em outro país, receba R$ 10 mil mensais. E, embora os críticos não aceitem, há em Cuba uma clara aceitação, pela população, de que os recursos obtidos pela exportação de bens e serviços (entre os quais o turismo e os serviços de educação e saúde) sejam revertidos a todos, e não a uma minoria. O que Cuba ganha com suas exportações de bens e serviços, depois de pagar aos trabalhadores envolvidos, não vai para pessoas físicas, vai para o Estado. A possibilidade de ganhar bem mais é que faz com que alguns médicos cubanos prefiram deixar Cuba e trabalhar em outros países como pessoas físicas. É normal que isso aconteça, em Cuba ou em qualquer país (não estamos recebendo portugueses e espanhóis?) e em qualquer atividade (quantos latino-americanos buscam emigrar para países mais desenvolvidos?).
 
Como é normal que muitos dos médicos cubanos aprovem o sistema socialista em que vivem e se disponham a cumprir as "missões internacionalistas" em qualquer parte do mundo, independentemente de qual é o salário. Para eles, a medicina se caracteriza pelo humanismo e pela solidariedade, e não pelo lucro. É difícil entender isso pelos que aceitam passivamente, aprovam ou se beneficiam da privatização e da mercantilização da medicina e da assistência à saúde no Brasil. Os críticos do médicos cubanos deveriam se preocupar com isso, que ocorre no Brasil em pleno século XXI.
 
 GC-ES-_GASTOS_PÚBLICOS_SAÚDE_-_2012-AGO-2013 (1)


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