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Os milionários não doam quase nada à pesquisa no Brasil

08 de março de 2014
 
ADRIANO BARCELOS COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
 
 
A tarefa do belgo-suíço nascido no Marrocos Eric Stobbaerts, 49, não é das mais simples: ele representa, na América Latina, uma organização cujo papel é levar à produção e à distribuição de remédios para doenças que acometem pacientes de países pobres e que não podem pagar por eles.
 
 
Stobbaerts é diretor-executivo da Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (Drugs for Neglected Diseases Initiative, na sigla em inglês DNDi). Ele tenta despertar o interesse de gigantes farmacêuticas para males como malária, leishmaniose e doença de Chagas.
 
 
As doenças negligenciadas ameaçam uma em cada seis pessoas do planeta, diz. Mas, entre 2000 e 2011, apenas 4% dos 850 novos medicamentos aprovados no mundo tratavam dessas doenças. Leia abaixo a entrevista que Stobbaerts concedeu à Folha.
 
 
Folha - A DNDi está no Brasil desde 2003. Ela atingiu seus objetivos?
 
 
Eric Stobbaerts - Há coisas a melhorar, mas o balanço é positivo. A OMS, em sua lista de medicamentos essenciais, incluiu seis novos tratamentos que desenvolvemos. Dois deles foram desenvolvidos no Brasil, sendo um contra malária, doença endêmica na Amazônia, desenvolvido com a Farmanguinhos. O outro sucesso é uma formulação pediátrica do benznidazol, para combater a doença de Chagas, feito com o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco.
 
 
Por que é importante incluir uma droga na lista da OMS?
 
 
Isso garante que o medicamento será reconhecido como bom para a saúde global. No caso da malária, é importante por ser um requisito para que ele entre nos mecanismos multilaterais de compra, o Fundo Global, a Unicef.
 
 
Das doenças negligenciadas, qual necessita de mais atenção na América Latina?
 
 
A doença de Chagas. Ela é muito endêmica e tem dois tratamentos antiquados, com mais de 40 anos. Nada foi feito depois disso. Procuramos maximizar o uso do velho remédio porque, apesar de antigo, boa parte dos pacientes ainda não têm acesso a ele. Chagas é a doença parasitária que mais mata no continente. No Brasil, morrem 6.000 pessoas ao ano. No continente, de 8 milhões a 10 milhões têm a doença, mas menos de 20 mil recebem tratamento. É inacreditável.
 
 
Há algum tratamento inovador para a doença de Chagas?
 
 
Um estudo mostrou que o velho benznidazol combinado a outros medicamentos pode ser uma opção. O problema tem sido a toxicidade, por isso estamos estudando a possibilidade de dosagens menores ou menos tempo de tratamento. Começamos outro ensaio clínico na Bolívia em maio, com outra molécula chamada fexinidazole.
 
 
Por que os doentes no Brasil e região ainda hoje não têm acesso a um medicamento que existe há 50 anos?
 
 
Eu seria injusto em dizer que não existe [vontade política]. O que falta é a liderança de alguns países por uma agenda comum para o tema. Houve esforços positivos no que diz respeito ao controle do barbeiro e isso foi feito graças a uma visão dos acadêmicos apoiada pelos políticos. Conseguiu-se reduzir a curva de transmissão, mas ainda há dois milhões de infectados só no Brasil.
 
 
Como o sr. avalia a distribuição de recursos para a pesquisa na indústria farmacêutica?
 
 
Todo ano se faz um estudo para analisar o investimento feito nas doenças que afetam as populações pobres. O "gap" continua, a maioria do dinheiro é investido para os futuros "blockbusters", um Viagra, ou um remédio para crescimento de cabelos.
 
 
A indústria está sendo negligente com seu papel social?
 
 
No começo, viam a DNDi como um bicho esquisito, com certo medo de olhar no fundo a sociedade civil organizada. Com tempo, nós os convencemos de que é uma relação de "ganha-ganha". Hoje, 98% das grandes multinacionais vêm à DNDi oferecendo suas bibliotecas de moléculas.
 
 
Nos Estados Unidos e na Europa, os ricos apoiam causas científicas. Há financiadores privados da América Latina?
 
 
Tem sido um desafio criar aqui uma pequena luz no fim do túnel sobre o que é a filantropia no Brasil. Há pouco. É preciso ver como pessoas físicas poderiam se mobilizar na nossa área. Tem bastante contribuição para a educação, meio ambiente e tal, mas o dinheiro dos milionários brasileiros na pesquisa e na ciência é quase nada. Tivemos no ano passado nossa primeira grande doação de uma pessoa que entendeu e apoia [a ciência]. Esperamos que seja um começo.
 
 
Além da doença de Chagas, outra doença preocupa a DNDi?
 
 
A leishmaniose visceral e cutânea, que ataca no Brasil mas também muito na Ásia.
 
Fonte: Folha de S. Paulo


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