Endereço: Rua José Antônio Marinho, 450
Barão Geraldo - Campinas, São Paulo - Brasil
Cep: 13084-783
Fone: +55 19 3289-5751
Email: idisa@idisa.org.br
Adicionar aos Favoritos | Indique esta Página

Entrar agora no IDISA online

Em busca dos grandes invisíveis

04 de junho de 2014
 
O estudo dos chamados vírus gigantes é importante por poder esclarecer casos de pneumonia e outras doenças em humanos. Grupo da UFMG se dedica a analisar esses micro-organismos e foi responsável por identificar o primeiro de origem nacional, batizado de Samba
 
» Lilian Monteiro
 
Belo Horizonte -- Os vírus são seres microscópicos, de apenas algumas dezenas de nanômetros. Há, contudo, um grupo especial, chamado de Gulliver dos vírus, formado por "gigantes" conhecidos como Mimi. Esses micro-organismos chegam a medir 700nm. Para se ter ideia, o da dengue, bem conhecido, tem 50nm em média. A descoberta dos gigantes é importante não só pelo tamanho, mas pela gama de informações que podem ser obtidas em seu genoma.
 
Professor adjunto do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG), Jônatas Abrahão conta que os primeiros vírus gigantes foram descobertos na década de 1990, na Inglaterra. Eles foram isolados dentro de uma ameba e caracterizados, inicialmente, como bactéria Coccus bradford. No entanto, ninguém conseguia cultivá-los.
 
"Foi aí que os pesquisadores levaram o material para um laboratório em Marselha, na França, especializado em bactérias que vivem dentro de amebas. Esses parceiros tiveram a ideia de usar a microscopia eletrônica (amplia milhares de vezes) e perceberam que se tratava de um vírus com dimensões e complexidade que ninguém conhecia", relata Abrahão.
 
Descobriu-se, assim, o primeiro vírus gigante do mundo, isolado em 2003 e batizado de Mimi. A partir daí, enfatiza o brasileiro, vários grupos passaram a pesquisar o tema. No Brasil, a equipe do Laboratório de Vírus da UFMG é o primeiro grupo dedicado a esses seres minúsculos. Em 2011, o professor começou com alunos a buscar vírus gigantes na Amazônia, "por ser um ambiente-símbolo da diversidade brasileira e pelo fato de poucas pesquisas sobre vírus serem realizadas lá".
 
No processo, foram coletadas aproximadamente 50 amostras de água do Rio Negro. "O vírus gigante está em qualquer lugar, e, onde há ameba, em teoria, ele viverá. O Rio Negro foi escolhido por ser especial ao receber matéria orgânica da floresta e ter um pH com acidez alta. Em 2011, trouxemos as amostras, e o aluno Rafael Campos isolou o vírus caracterizado como o primeiro gigante de origem brasileira", explica.
 
Do estudo, que durou dois anos, nasceu o Samba, maior vírus isolado no Brasil, que também teve a colaboração dos pesquisadores franceses de Marselha. Os parceiros, aliás, que sugeriram o nome. "Sequenciamos o genoma completo do vírus, que nos informa o quão autônomo ele é em relação à ameba. Ele tem genes que são únicos e 50 mil pares de base a mais que o Mimi, sugerindo uma maior quantidade de proteínas que ele pode codificar."
 
Outra descoberta de enorme importância, que abre vastos caminhos no universo dos seres microscópicos, foi a existência do virófago (vírus que infecta outro vírus), que também foi isolado e vive como partículas do vírus gigante dentro da ameba. Os virófagos reduzem a multiplicação do vírus gigante. "É o primeiro virófago isolado nas Américas." O virófago precisa do vírus gigante para se multiplicar (viver) e o vírus gigante depende da ameba. "Só que a ameba estaria em apuros se existisse só o vírus gigante. Então, o virófago "auxilia" a sobrevida da ameba, já que sem ameba ninguém viveria." Ou seja, é um ciclo, em que ameba, vírus gigante e virófago dependem um do outro para existirem.
 
Pneumonia
 
A importância da descoberta do Samba é apontada em duas linhas pelo professor. "Primeiro, para mostrar a diversidade e a riqueza de espécies microbiológicas da Amazônia. E, em segundo lugar, o fato de o vírus gigante estar associado com casos de pneumonia em seres humanos." Mas ele enfatiza que tais resultados "estão em estudo e não são conclusivos. No entanto, há fortes evidências." Ele lembra que 50% dos casos de pneumonia não têm agente etiológico descrito. "Não acredito que os vírus gigantes sejam agentes epidêmicos da pneumonia, mas podem fazer parte de um percentual."
 
Jônatas Abrahão destaca ainda que os vírus gigantes foram encontrados em macacos e bovinos na região da Amazônia. "E já foi demonstrado que o Samba e o Mimi se multiplicaram em algumas células do ser humano."
 
Depois da descoberta do Samba, Jônatas revela que há pesquisas atrás de vírus gigantes em diversos biomas do Brasil. Ele cita o pantanal, lagoas urbanas, o cerrado, a Mata Atlântica e a caatinga, que são ambientes com características bem diferentes um do outro. "Já foram isolados mais de 30 vírus gigantes. Tem o Niemeyer, da Lagoa da Pampulha, o Kroon, de Lagoa Santa, e o Cipó, da Serra do Cipó. Todos em processo de análise e estudo", revela.
 
Agora, conforme Jônatas, é preciso buscar entender a relação do vírus gigante com os vertebrados, como os seres humanos e os outros animais. "Temos uma aluna de mestrado que conseguiu demonstrar que os mimivírus são capazes de controlar alguns elementos do sistema imunológico humano; e no Hospital das Clínicas da UFMG, nosso parceiro, estamos estudando os fatores de risco dos vírus gigantes no ambiente hospitalar.
 
" Publicação
 
A descrição oficial da descoberta do vírus Samba foi publicada no mês passado em artigo no periódico internacional Virology Journal com o título de Samba virus: a novel mimivirus from a giant rain forest, the Brazilian Amazon, de autoria dos cientistas Rafael K. Campos, Paulo V. Boratto, Felipe L. Assis, Eric Aguiar, Lorena C.F. Silva, Jonas D. Albarnaz, Fabio P. Dornas, Giliane S. Trindade, Paulo P. Ferreira, João T. Marques, Catherine Robert, Didier Raoult, Erna G. Kroon, Bernard La Scola e Jônatas S. Abrahão. O documento pode ser acessado em http://www.virologyj.com/content/11/1/95.
 
Fonte: Correio Braziliense


Meus Dados

Dados do Amigo

Copyright © . IDISA . Desenvolvido por W2F Publicidade