Diretor do Into diz que fila para operação é responsabilidade do SUS
21 de agosto de 2014
De acordo com cirurgião, gestão do sistema cabe aos municípios
Bruno Amorim
O diretor do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into), o cirurgião João Matheus Guimarães, disse ontem que a fila de mais de 14 mil pacientes que aguardam operação na unidade federal é de responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS), cuja gestão cabe aos govemos municipais. Para amenizar o sofrimento dos doentes, a Defensoria Pública da União entrou na Justiça anteontem com uma ação civil pública, para que o Into acabe com a fila em dois anos.
- Na realidade, essa fila não tinha que estar aqui, mas no SUS. Como o Rio foi capital do país, temos uma grande quantidade de hospitais federais. Isso criou um vício em que o gestor municipal passa as cirurgias mais complexas para os hospitais federais. Além disso, um único paciente pode estar em várias filas. Por isso, queremos unificar - disse Guimarães.
A Secretaria municipal de Saúde informou que o Into é a unidade de referência do SUS para procedimentos de alta complexidade em ortopedia e que, por isso, "deve receber pacientes com demandas cirúrgicas não emergenciais dos 92 municípios do Estado do Rio"
COZINHEIRA AGUARDA CIRURGIA
Segundo Guimarães, o instituto ainda não foi notificado sobre a ação da defensoria. Ele garantiu, no entanto, que algumas das exigências já estão sendo adotadas: as filas estão sendo reavaliadas desde o ano passado, e o sistema foi informatizado em 2004. Guimarães frisou, no entanto, que a abertura de concurso público, para contratação de mais profissionais, só pode ser feita pelo Ministério da Saúde.
De acordo com a assessoria do Into, desde 2013, outras medidas foram tomadas para acelerar o atendimento, incluindo a execução de 16 mutirões para a realização de cirurgias. Desde o ano passado, ainda segundo a unidade, já foram feitos 13.497 procedimentos cirúrgicos.
Enquanto a cirurgia não é marcada, pacientes continuam sofrendo. E o caso da cozinheira Janette Mello, de 58 anos, moradora de São Gonçalo, que não pode mais trabalhar por sentir dores nas mãos e num joelho (onde sofre de falta de cartilagem). Desde 2010, ela aguarda uma chance de ser operada.
- Há quatro anos eu venho ao Into todas as semanas, para tentar ser operada. Cada vez é um médico diferente, e eles não conseguiram resolver nem o problema nas minhas mãos, que exige uma cirurgia mais simples - contou ela.
Outro que aguarda sua vez chegar é Geraldo Dias de Andrade, de 49 anos. Vítima há 15 anos de um acidente de trânsito, que o levou a se aposentar por invalidez, ele quebrou a perna direita, o tornozelo e o pé. Há dois anos, Geraldo se operou no Into. Não conseguiu, no entanto, se livrar das dores na perna, que também está, segundo ele, cinco centímetros menor que a outra.
QUATRO HORAS DE VIAGEM
Por isso, ontem, mais uma vez, ele enfrentou uma viagem de quatro horas de Santo Antônio de Pádua, no Norte Fluminense, até o Centro do Rio, onde fica o Into, na esperança de marcar uma nova cirurgia. Mas ainda não foi dessa vez: a médica que o atenderia não estava lá.