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Suicídio: como prevenir a violência que mais mata no mundo?

Pesquisadores comentam a questão no Brasil a partir de relatório da OMS
 
Especialistas e pesquisadores tentam entender os índices elevados de suicídio em pauta nestes últimos dias depois da OMS ter divulgado o primeiro Relatório Global para Prevenção do Suicídio. Os dados apontamque mais de 800 mil pessoas cometem o ato todos os anos no mundo, evidenciando um grande problema de saúde pública global. 

Cerca de 75% dos casos ocorrem em países de baixa e média renda e o Brasil ocupa o oitavo país, nas Américas, em número de suicídios. “Tem havido um crescimento expressivo do suicídio no mundo inteiro. No Brasil, a taxa é alarmante porque não se falava abertamente nisso, mas se sabia do problema”, comentou o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Paulo Amarante, em reportagem da Fiocruz. 

“O mito de que o Brasil é um país alegre não é real. Na verdade, o que está acontecendo é um processo muito grande de individualismo, de disputa, de competitividade e tudo tem a ver, estruturalmente, com as ideias de suicídio. As pessoas se sentem sós em cidades grandes”, ressaltou.

Prevenção 

Entretanto, as medidas preventivas apontadas pelo relatório não detalham de que maneira cuidar dos aspectos psicológicos dessas pessoas para que se evite o suicídio. 

O relatório recomenda dificultar o acesso a armas de fogo, venenos e maneiras de se enforcar, sendo os métodos mais comuns de suicídio global. Além disso, recomenda-se um compromisso dos governos nacionais para a criação e implementação de um plano de ação coordenado. Atualmente, apenas 28 países são conhecidos por ter estratégias nacionais de prevenção do suicídio, segundo a OMS. 

Para Amarante, da Ensp, o suicídio está ligado à saúde mental, não sendo necessariamente uma patologia. O pesquisador da Escola explicou que situações de tristeza, sensação de abandono ou depressão são fatores atenuantes para o problema. Ele ressalta, ainda, que um caso amoroso é algo comum para gerar uma tentativa de suicídio. 

Segundo o pesquisador, o grande problema no Brasil para a questão do suicídio é a falta de uma assistência às pessoas que tentam tal ato. Em geral, onde a pessoa é atendida, acaba sendo submetida a situações de constrangimento ou humilhação. “É muito comum ouvir de profissionais de saúde que tentativas de suicídio são falsas ou simples manifestações histéricas. Essa pessoa vai parar numa emergência, é socorrida e acabou. Não há encaminhamento aos Centros de Atenção Psicossocial (Caps)”, disse em reportagem. 

O especialista relata que muitas pessoas procuram ajuda. Muitos casos estudados demonstram que antes de tentar o suicídio, a pessoa foi a um médico, a um psicólogo, falou com familiares, procurou ajuda religiosa. Mas que, em geral, acabam não sendo ouvidas. 

O levantamento diz ainda que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio e o tabu em torno deste tipo de morte impede que famílias e governos abordem a questão abertamente e de forma eficaz. A mortalidade de pessoas com idade entre 70 anos ou mais é maior, de acordo com a pesquisa.

Para Maria Cecília Minayo, pesquisadora e coordenadora científica do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/Ensp), o elevado número de pessoas que cometem suicídio no mundo pode assustar porque no Brasil e na América Latina como um todo, a violência que mais mata são os homicídios, mas, no mundo, a violência que mais mata são os suicídios, estando entre as 10 principais causas de óbito, tendo aumentado 60% nos últimos 50 anos.

De acordo com a pesquisadora, as taxas de autoextermínio entre adolescentes e idosos são as que mais tendem a aumentar. Entre os jovens, o suicídio constitui a segunda ou terceira causa de morte em muitos países. Mas os índices de suicídio consumados estão distribuídos desigualmente na população mundial e dentro dos países. Segundo a OMS, os mais elevados se encontram no Leste Europeu (Lituânia, 51,6/100.000; Rússia, 43,1/100.000; Bielorússia, 41,5/100.000 e Estônia, 37,9/100.000)”

No Brasil, o caso é diferente. Enquanto os homicídios têm uma taxa de 25/100.000 e o país é considerado um dos 60 mais violentos do mundo, ocupando o 5º lugar na América Latina, depois de Venezuela, Colômbia, El Salvador e Honduras; as taxas de suicídio são consideradas baixas, entre 5.4/100.000 e 5.9/100.000 habitantes.

“Ocupamos o 113º lugar no mundo e oitavo na América Latina em taxas de suicídio. No entanto, há uma questão a se preocupar: dentro país também as taxas são distribuídas desigualmente. São mais baixas no Norte e muito mais alta na região Sul, onde em várias cidades elas se assemelham às da Europa Central (onde as taxas são mais elevadas). Outro ponto importante a ser observado é que as taxas de suicídio masculino estão crescendo, enquanto as taxas de suicídio feminino permanecem estáveis”, afirmou. Para Cecília Minayo, o suicídio pode ser prevenido sim, mas em parte. Ele é sempre um ato voluntário numa situação de extremo sofrimento.

Suicidas no Brasil

Com o objetivo de compreender a magnitude e a significância do suicídio na população brasileira acima de 60 anos, pesquisadores do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Carelli (Claves/Ensp), em parceria com pesquisadores de programas de pós-graduação e serviços de saúde de diversos estados brasileiros, desenvolveram a pesquisa É possível prevenir a antecipação do fim? Suicídio de idosos no Brasil e possibilidades de atuação do setor saúde.

Realizado no período de 2010 a 2012, o trabalho contemplou uma dimensão de magnitude (abordagem epidemiológica) e outra de aprofundamento (abordagem qualitativa psicossocial). Do ponto de vista epidemiológico, abrangeu todos os idosos com 60 anos ou mais que faleceram por suicídio no período de 1980 a 2009 no Brasil.

Nos triênios de 1997–2000 e 2003–2006, 3.039 municípios brasileiros tiveram registros e casos de suicídio de pessoas com mais de 60 anos. Isso corresponde a 54,6% do total de municípios. De 1980 a 2008, as taxas de suicídio na população geral no país passaram de 4,0 em cada 100 mil habitantes para 4,8. Esses índices foram mais ou menos constantes e demonstram uma leve tendência de crescimento. No entanto, o país se mantém entre os que têm menores taxas, segundo os critérios da OMS.

Tal crescimento suave – porém consistente – se deve, sobretudo, ao aumento das mortes autoinfligidas na população masculina de todas as idades e, especialmente, na população acima de 60 anos. Dos 50 municípios brasileiros com os índices mais elevados de mortes autoprovocadas entre pessoas acima de 60 anos, 90% estão no Sul. O Norte é a região que apresenta as menores taxas. Constatou-se também que os idosos morrem principalmente em suas próprias residências (51%).
Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio

O Congresso Nacional ficou iluminado de amarelo no dia 10 de setembro, definido pela OMS como Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A iniciativa, que inclui diversos prédios públicos no País, faz parte de uma campanha do Conselho Federal de Medicina e da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Em alusão à data instituída, organizações civis que trabalham com o tema no País, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), promovem debates com especialistas. Em entrevista à Rádio Câmara, o voluntário do CVV Carlos Correia destacou que 17% dos brasileiros já pensaram em se matar, segundo pesquisa da Unicamp. Ele afirmou que, em geral, o suicídio está associado a doenças mentais ou ao abuso de álcool e drogas.

Para Carlos Correia, é preciso estar atento a eventuais sinais dados por pessoas que pensam em suicídio. “Esses sinais não devem ser menosprezados pelas pessoas que estão em volta, que devem procurar acolher, compreender essa pessoa para saber o que está acontecendo com ela.”
 
Fonte: Com informações da Agência Fiocruz de Notícias e Agência Câmara
 


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