“SUS: única política pública universal, distributiva e própria de um federalismo cooperativo”. Lenir Santos Segunda feira 3/4/2006 abro meu provedor UOL e a manchete é “Lula dará Saúde a grupo do PMDB que garantir a Liderança da Câmara” do Blog do Jornalista Fernando Rodrigues às 7:15 da manhã. “O Ministério da Saúde será entregue pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao grupo do PMDB que conseguir oferecer ao governo uma Liderança confiável dentro da Câmara. Os peemedebistas estão sempre rachados quase ao meio e devem escolher o novo líder nesta quarta-feira, dia 5. Ao condicionar o loteamento do Ministério da Saúde à eleição do novo líder do PMDB na Câmara, Lula abre de uma vez a porteira para tentar conquistar os peemedebistas. Embora os deputados dessa sigla sejam usualmente chamados de governistas e oposicionistas, a divisão é mais complexa.... A pasta da Saúde está interinamente ocupada por um interino. Com a sua devolução a um grupo amplo de deputados do PMDB, Lula acredita que pacifica esse partido para ter um final de mandato suave dentro do Congresso.” FR Estou indignado. Fui surpreendido pela desfaçatez da “explicitude”. O despudor de, privada e publicamente, se saber que estão leiloando o Ministério da Saúde! Com dia marcado: quarta-feira dia 5-4-2006! Não me preocupa se o MS vai para este ou aquele partido. A indignação é pelo leilão. Explícito. Pelo menos poderiam ter lançado mão do pregão que garantiria o Ministério da Saúde para quem se comprometesse a dar mais (entregar mais e melhor bem ou serviço) e receber menos (dinheiro e favores). Durante anos e mais anos um movimento em favor da vida e da saúde como direito humano e constitucional, lutou por constituir no Brasil um sistema de saúde que tivesse como característica a universalidade e a integralidade. O tudo para todos em saúde. Inicialmente este movimento teve a militância e liderança de pessoas dentro do campo político que se denominou esquerda sanitária. (Ainda uma vez homenageio Nelson Rodrigues dos Santos, o mais reto, firme e constante militante desta pleiade.) Hoje, um movimento com maioridade, supra e pluripartidário e que já conquistou camadas importantes de técnicos, militantes, simpatizantes e de cidadãos usuários. A luta era para montar este sistema aos poucos como a história demonstrou (PIASS, PLANO CONASP (AIS), SUDS e SUS.) Definido o SUS na CF em 1988, vem se lutando pela sua implantação e implementação. Já se vão quase vinte anos. Um dos caminhos é se ter na direção do Ministério da Saúde, além do Ministro, uma equipe de técnicos comprometidos com a proposta constitucional. Gente que entenda o que tem que ser feito e que tenha a ousadia e jure cumprir e fazer cumprir as leis da saúde (único compromisso possível a um servidor público comissionado ou não). Ao ver esta notícia e lembrando-me de históricos militantes desta luta (os de ontem, os de hoje e os de amanhã), passou-me um frio pela espinha. Justamente num governo escolhido, dito e havido como progressista (de esquerda). Levantado, mantido e apoiado por uma ampla militância (de operários a técnicos e intelectuais) inclusive da saúde. Neste governo, com esta história, a saúde apresenta-se diante do dilema descrito pelo jornalista Fernando Rodrigues. O Ministério da Saúde é rifado em leilão: quem dá mais!!! Sou de pensamento e visão supra e pluripartidária, não obstante minha crença e prática seja, pela história de vida, mais na linha progressista que conservadora. Não entendo nem tolero este momento político em relação a escolha de quem liderará o projeto saúde do Brasil. Não critico esta ou aquela corrente, deste ou daquele partido que pretenda ou lhe esteja sendo oferecido o Ministério da Saúde. Não está em jogo a competência individual de quem poderá assumir. Nem a proposta de trabalho do próprio ou de quem o sustenta. O fulcro é o apoio político. O que me horripila é ter que assistir a um MINISTÉRIO DA SAÚDE sendo entregue como espólio/moeda de barganha para o partido ou facção partidária que mais oferecer em troca. “Se me apoiar, dou-lhe um naco a mais de poder: o comando da Saúde!” De outro lado, partidos políticos deveriam se envergonhar de serem assim mercadejados e adquiridos. O Ministro escolhido, nestas circunstâncias, poderia ter pelo menos “rubor” e pensar “Puxa! Assim não quero ser ministro. Fico envergonhado. Nem sei como, depois, olhar nos olhos de companheiro, filhos e pais!” Vejo velhos militantes revirando-se em suas tumbas. Outros, vivos, rangendo dentes. Os ainda neófitos, mas fervorosos, chorando a oportunidade perdida. E pensarmos que agora ia acontecer! Fica aí para a reflexão até quarta-feira. Na quinta tudo será diferente! Terá levado a noiva (Ministério da Saúde) com seu baú, aquele que tiver feito mais juras de amor e fidelidade ao governo Lula. Fidelidade incondicional. Para o bem e para o mal?! Lula, ainda há tempo para um gesto e postura de dignidade. Deixe, neste finalzinho de governo, o Ministério da Saúde nas mãos de gente entendida, honesta e confiável. Tenho certeza de que, lá mesmo, os encontrará e de várias correntes e partidos. Entre estes, até alguns que, junto com você, iniciaram este projeto de poder. Fervorosa e crentemente. Oh! Lula, ainda há tempo! Antes de começar o leilão do Ministério da Saúde na quarta-feira, você pode cair na real e optar pelo melhor para o seu povo e sua saúde. Sua e de nós todos.