Endereço: Rua José Antônio Marinho, 450
Barão Geraldo - Campinas, São Paulo - Brasil
Cep: 13084-783
Fone: +55 19 3289-5751
Email: idisa@idisa.org.br
Adicionar aos Favoritos | Indique esta Página

Entrar agora no IDISA online

Democracia e Voto

Agradecer ao Centro de Estudos Psicanalíticos de Brasília
Em especial a Dra. Isabel Maria


Quando falamos de democracia e voto temos que ter em mente a evolução das lutas pelos direitos das pessoas.
Direitos políticos-o votar e ser votado do final dos anos 900 e início do século passado
Direitos sociais – lutas que caracterizaram todo século XX
Direito à vida – que deve ser a marca das lutas daqui para frente.
A evolução se dá em círculos excêntricos, ampliando-se a cada volta do parafuso.
A luta pelos direitos de vida vai se fundamentar do direito de existir ao dever de coexistir. Do respeito individual ao estabelecimento de uma ética coletiva, de fraternidade, solidariedade e cidadania.
Nada melhor para conformar estas idéias que o amor como princípio, a democracia como diretriz e o voto como instrumento.
Posso encontrar a aproximação entre política e psicanálise nas palavras de Hanna Arendt: “O sentido da política é a liberdade”. Espero que ninguém tenha dúvidas que esse seja, igualmente, o sentido da psicanálise.
Como psicanalista tenho por função a curiosidade e isso me leva a pensar o que se passa na mente das pessoas. E confesso que tenho dificuldades para entender como alguns candidatos se disponham a gastar, segundo informações do TRE, quantias superiores ao que possam amealhar durante todo o tempo de mandato. Valores de 4 e 5 milhões de reais foram noticiados na rede globo como os gastos informados ao TRE por César Lacerda, Vigão, Filipeli. Como explicar isso? Pela honra de servir ao povo? Pelo título de deputado? Sem conversar com os personagens é impossível saber-se o por que.
Porém já temos alguns dados para reflexão. Freud, que sabia das coisas, foi genial ao desenvolver uma técnica e um método que nos permitiu identificar que a natureza humana é a de querer tudo, imediatamente e ao mesmo tempo, só para si e com o mínimo de esforço.
Outro fator que não pode ser ignorado é que vivemos numa sociedade capitalista onde o lucro é esperado e desejável.
Juntando-se tudo pode se deduzir que existe o desejo e é avistada alguma possibilidade de serem recuperadas as importâncias aplicadas, sejam elas do próprio bolso – o que é improvável, seja de “suportadores” ou financiadores – afinal como já o disse o ex-político paulista Robertão Cardoso Alves, ao ser perguntado quanto gastaria numa campanha: Uns 11 milhões, mas meu mesmo nada, porque não sou maluco.
Ou seja, os que investem numa campanha investem como em qualquer outro negócio, com a perspectiva de retorno do investimento.
Em alguns casos fica ainda mais difícil de entender como se dá essa relação financiador-financiado. Há poucos anos um projeto do GDF era deletério para o comércio e a indústria locais. Pois bem, os deputados distritais financiados pelo comércio e indústria locais votaram favoravelmente ao projeto em detrimento dos financiadores. Alguns destes perguntaram posteriormente em uma tensa reunião, a quem afinal, esses deputados representavam? Não se ouviu a resposta.
Essa, aliás, é uma pergunta que o psicanalista ainda não conseguiu chegar a resposta. Afinal, a quem esses deputados representam?
Certamente não é a população mais desvalida. Nem mesmo a dos menos favorecidos ou dos pequenos. Dois exemplos rasteiros. O GDF mudou os abrigos de ônibus. Agora são de metal, com assentos individuais, cheios de braços. Ou seja, os mendigos e excluídos não podem mais nem se abrigar nos abrigos para dormir deitado. Só se for sentado.
Um Deputado (César Lacerda), olha ele aí outra vez, apresenta projeto proibindo quiosques e novos pequenos comércios no Lago Sul, mas isso só depois de patrocinar um projeto que transforma uma escola em centro comercial com cinco andares. Pro pequeno nada, pros grandes tudo. È a corruptela do antigo pros amigos tudo, para os demais a letra fria da lei.
Avançando um pouco no terreno da sociologia, é possível traçar a dinâmica de um circulo vicioso. O da preservação do poder das elites, intelectual, política e financeira. A educação de qualidade é privilégio das elites que podem pagar escolas particulares, com o sucateamento progressivo e inexorável da rede pública de ensino e do desprestigiamento da carreira de magistério. A probabilidade de um aluno do curso secundário entrar para a universidade aumenta se ele freqüentou boas escolas (entenda-se privada) e fez cursinho. Ambos caros. Mas ele entra em faculdade pública, as que melhor preparam e menos vagas oferecem para os cursos noturnos, que aqueles que precisam trabalhar necessitam freqüentar. Ou seja, os que têm mais recursos, e já pertencem as elites serão melhores preparados e continuarão a pertencer as essas elites. Dessas elites, intelectuais e financeiras, sairão, ou mais precisamente, continuarão a serem recrutados pelos partidos os candidatos aos cargos eletivos, que serão selecionados em função de sua capacidade de arregimentar recursos, sejam públicos, sejam humanos, sejam financeiros. Como já dizia o Dr. Adib Jatene, o maior problema do pobre é que ele só tem amigos pobres e não tem quem interceda por eles nos casos de necessidade. E são justamente esses candidatos que eleitos farão as leis que beneficiarão as diversas camadas da população. Não é preciso se estender muito para saber quais as camadas mais beneficiadas. E assim la nave vá. E os privilégios são ampliados e as elites se e são eternalizadas no poder.
Será que é possível transformar esse círculo vicioso em virtuoso? Possível mas não provável, se mantidas, como se diz na pesquisa científica, as condições de umidade, temperatura e pressão. Mas podemos esperar um milagre, não no sentido religioso nem no sentido de ser acontecimento sobrenatural e sobre-humano, mas no conceito empregado por Hanna Arendt: “do ponto de vista dos fenômenos universais e das probabilidades que os presidem,... podem ser tornados inteligíveis estatisticamente”. Ela considerava o surgimento do planeta Terra e da própria vida orgânica no planeta como uma impossibilidade infinita. Então todo início do processo, seja para salvação ou para o desastre é tão infinitamente improvável que todos os acontecimentos de uma importância maior se apresentam como milagres. Porém Kant dizia que era possível iniciar uma cadeia a partir de si mesmo e Hanna Arendt completava a tabelinha afirmando que o milagre da liberdade está inserido nesse poder de iniciar.
Em função dessas considerações e observações, remanesce uma pergunta. Como votamos neles? Como votamos nesses ladrões e estelionatários? Esses que roubam nossos votos e enganam nossas esperanças?
Eles prometem o que não podem nem tem intenção de cumprir e nós, eleitores, nos tornamos cúmplices. Não entendemos e não gostamos, mas coonestamos e aceitamos.
Assim, creio que é muito mais produtivo e conseqüente, antes de perguntar a eles o que os leva a serem políticos e buscarem votos, seduzindo, aliciando e mentindo, perguntarmos a nós mesmos porque fazemos a nossa parte, aceitando e coonestando. Validando e empossando.
Se for só pela democracia, pobre democracia. Se for só pelo amor poupem-me dele. Se for pela ignorância que venha a educação.
Se for pelo voto é bom começarmos a aprender a votar, enquanto ainda resta alguma coisa pelo que lutar.


Muito obrigado e tenho dito.

 

PLANEJAMENTORELCONASSCONASEMSJUNHO2009
GC200906TASTERMODEAJUSTESANITARIO
COIMBRARecordareviver

 



Meus Dados

Dados do Amigo

Copyright © . IDISA . Desenvolvido por W2F Publicidade