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Muitos Pesos e Muitas Medidas

Sylvain Levy

 

Os deveres dos ofícios da medicina, sanitarismo e psicanálise, me impõem a observar, entender e interpretar sinais e sintomas, fatos e ocorrências, narrativas e pessoas. Mesmo com a prática de vários anos, algumas vezes me deparo com situações que se revelam incompreensíveis.

O linchamento profissional e o “banimento” que querem impor ao piloto de Fórmula Um, Nélson Ângelo Piquet é uma dessas ocasiões.


Não coloco em discussão sua atitude durante o Grande Prêmio de Singapura, no ano passado. Foi antiética e errada, sob todos os aspectos. O próprio piloto já admitiu isso. Mas por que bani-lo de sua atividade profissional? O que ele fez, que outros pilotos incensados pela mídia e pelos aficionados da Fórmula Um, não fizeram, em formato diferente, mas com similar conteúdo?


Relembrando três episódios que envolveram pilotos brasileiros:


1. Grande Prêmio do Japão de 1989, penúltima prova da temporada. Ayrton Senna, de Mc Laren, precisava vencer para ainda ter chance de ser campeão. Se isso não acontecesse, Alain Prost, com a Ferrari, seria tri-campeão. Na 46ª volta Senna e Prost se tocam na chicane, quando, segundo uma versão, um tentava tirar o outro da pista e segundo outra, o francês joga seu carro contra o do brasileiro. Fim de corrida para Prost, Senna é empurrado pelos comissários, consegue voltar pela grama e termina a corrida em primeiro lugar, mas é desclassificado sob a alegação de ter retornado atalhando a chicane por cima do canteiro. Desse modo, Prost se tornava tri-campeão mundial graças aos cartolas da F1 com quem Senna discutiu por vários meses e chegou até a ser banido da F1 pelo presidente da FIA, Jean-Marie Ballestre, caso que foi resolvido com a intervenção da McLaren e da Honda e um pedido de desculpas de Senna.


2. No ano seguinte, 1990, no mesmo Grande Prêmio do Japão, realizado na mesma Suzuka, com as mesmas escuderias, vivia-se a mesma situação, só que invertida. Com 10 pontos de vantagem e faltando duas corridas (na época cada vitória valia 6 pontos) era Senna quem precisa impedir Prost de pontuar e assim ganhar o título antecipadamente. Tendo conquistado a pole position, o brasileiro, na primeira curva, joga o carro contra Prost, que conseguira largar melhor e pulara para o primeiro lugar. Senna havia declarado, antes da corrida, que não permitiria a ultrapassagem de Prost. Ele cumpriu o prometido. Ambos saíram da corrida e Senna foi sagrado bi-campeão mundial da Fórmula Um, para orgulho de todos os brasileiros. .


3. Grande Prêmio da Áustria de 2002. Com ambos pilotando Ferrari, Rubens Barrichello após liderar toda a corrida tira o pé do acelerador e deixa Michael Schumacher ultrapassá-lo na reta final, “doando-lhe” o primeiro lugar, após a última curva. Repetia assim o que já havia feito no ano anterior, no mesmo Grande Prêmio. A diferença é que em 2001 estava em segundo e permitiu a passagem de Schumacher, aceitando o terceiro lugar. Na época, dependendo da paixão do observador, foi enfatizado, louvado ou criticado o “jogo de equipe”, embora a Fórmula Um seja considerada um “esporte” individual.
Coloquei “esporte” entre aspas, já que há muitos anos não consigo entender a Fórmula Um como esporte, mas como jogo, e aí as regras são outras.

A nenhum desses pilotos – Senna, Prost e Barrichello, foi ao menos aventada a possibilidade de serem impedidos de continuar pilotando na Fórmula Um e muito menos de continuarem a exercer seu trabalho, como estão fazendo com Nélson Ângelo Piquet.

Senna foi punido por criticar Ballestre e não por conduta anti-esportiva. Prost e Rubinho nem foram chamados a se explicar sobre os episódios nos quais se envolveram. Nos casos de Senna e Prost eram ambos os beneficiários diretos e “esportivos” de suas manobras. Barrichello favoreceu a equipe e seu beneficio pode ter sido um melhor posicionamento junto a Ferrari.

Ainda procuro entender, para depois tentar interpretar, a sanha destruidora que deslancharam contra a continuidade da carreira profissional de Piquet, e o beneplácito com que Senna, Prost e Barrichello foram privilegiados.



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