O médico sanitarista Hermano Castro de Albuquerque, da Fundação Oswaldo Cruz, foi acordado às 7h30m da manhã de ontem por um oficial de Justiça. O motivo, uma interpelação judicial impetrada pelo Instituto Brasileiro de Crisotila, entidade que congrega a indústria do amianto, pedindo explicações sobre artigos e entrevistas dadas pelo pesquisador que desde 1979 acompanha doentes por exposição ao amianto. São contestadas entrevistas e artigos de diferentes épocas. O artigo em que cita 2.400 mortos por mesotelioma, câncer majoritariamente ligado à exposição ao amianto, é de 2008. Em outras publicações, o especialista afirma que há risco ambiental, e não somente ocupacional, do uso da fibra cancerígena, já proibida por mais de 50 países.
- Esse risco existe. Estudo o assunto desde 1979 e há casos de mesotelioma que não são ligados à exposição ocupacional. Há resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) que considera o amianto resíduo perigoso. Esse tipo de interpelação é uma etapa anterior à ação judicial - afirma Albuquerque.
O advogado do Instituto, Antonio José Telles de Vasconcellos, diz que o objetivo da notificação é que o pesquisador mostre em quais estudos se baseou para dizer que o "transporte, comércio, uso e instalação e descarte de produtos contendo amianto oferece risco à saúde".
- Queremos saber também de onde ele tirou os 2.400 mortos por mesotelioma de 1980 a 2003. O mesotelioma não é necessariamente causado por amianto.
Segundo o sanitarista René Mendes, professor da UFMG, a notificação é uma tentativa de intimidação e outros pesquisadores vão preparar conjuntamente a resposta à interpelação.