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Lições sobre a Morte de Barbara Starfileld

Colegas,
 
Conheci Barbara nos anos 85-87 na Johns Hopkins quando ela foi minha professora em um dos cursos que fiz em International Health e outro em Ensaios Clínicos ministrado por Curtis Meinert. Era uma pesquisadora senior em todos os sentidos e exalava o odor de consciência sobre algo mais que não costuma circular pelos corredores daquela escola. Dada a barreira cultural e de idiomas eu não podia naquela época avaliar a importância que ela teria para a luta pela equidade em saúde em todo o mundo, pelos cuidados primários em saúde, mesmo vivendo em um país desigual onde a saúde coletiva jamais será considerada importante, onde o custo da saúde é capitalistamente desigual e iníquo. Uma pessoa que naquele ambiente tem a visão que ela teve tem importância mundial.
 
O viúvo (marido) dela escreve como pediatra, e certamente tem formação de saúde pública. A importância dessa "Crônica da morte imprevista" escrita em raiva e sofrimento profundo ou "anger and sorrow" como ele mesmo diz está acima de nossos sentimentos comuns pela equidade nos serviços. Merece ser lida não como crônica médica perspicaz mas como lição humana que transcende países, sistemas econômicos e mesmo culturas.
 
Digo isso por que recebemos uma vez a lição dada por nosso colega à época, Christian Köjeede, à beira do Lago Michigan, de que se alguém está circulando pelo porão daquela escola de saúde pública num país como aquele, mesmo que esteja vestindo uniforme e quepe da Navy, já é um indivíduo acima dos 1% que têm a melhor consciência social e de mundo. Levamos muito tempo para aprender a respeitar isso, vivendo nosso mundo de estereótipos.
Quebrando um dos estereótipos, o da sanitarista norteamericana, sei por que li apesar de não ter presenciado, sobre uma cena protagonizada por Bárbara Starfield no Brasil em que ao ministrar conferência na USP ela teria se dirigido ao auditório com presença maciça de sanitaristas que prestigiam o SUS e perguntado quantos dos presentes pagavam planos particulares suplementares de saúde. A levantar constrangido de muitos braços ela disse que enquanto nosso país fosse assim ela não acreditaria que o SUS poderia sobreviver e literalmente calou a platéia. Calou como fez o histórico atacante uruguaio calou quarenta mil torcedores brasileiros que esperavam que o Brasil vencesse a copa de 1950 no Maracanã.
O depoimento do marido dela é mais que uma crônica. É uma necrópsia de nossos sistemas de saúde, onde o SUS é como uma flor que tenta crescer no pântano, escrita em um país que espalha o pântano por todos os cantos onde os marines e os espiões da CIA colocam seus pés.
 
Finalizo com a recomendação para que leiam no blog do CEBES e também no melhor jornal argentino - Página 12, a entrevista de Ana Maria Costa, presidenta do CEBES, falando do drama de ter sua filha mais nova necessitando de tratar Leucemia em Brasília, uma das cidades onde não permitem que o SUS possa nascer. Teve que recorrer ao serviço suplementar. Pior que o SUS de Brasília nem os do Rio e de Maceió e a classe média não se dá conta morando na única cidade brasileira onde um aceno de braços pode fazer com que motoristas parem seus carros para o pedestre atravessar a rua. Meu cachorrinho já aprendeu. Abana o rabinho na faixa, espera que os carros parem e me puxa pela coleira atravessando depressa. Será com essa cultura que vamos implantar o SUS que queremos?
 
Boa leitura.
 
Heleno
 
 


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