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Lágrimas de crocodilos e vampiros

 
Heleno Rodrigues Corrêa Filho
 
Pessoas com formação autoritária tendem a apreciar os movimentos que defendem o capitalismo em suas versões do fascismo ao ‘ultracapitalismo’. Valorizam o arrivismo social em que dominam os ‘vencedores’ e os ‘perdedores’ são ridicularizados. Educam seus filhos com as lições que promovem e aceitam a opressão e defendem a repressão desde que os seus familiares sejam colocados em lugar seguro. As três virtudes da justiça capitalista são exatamente o arrivismo, a opressão e a repressão, revelados nas rampas antimendigos da cidade de São Paulo, na expulsão de moradores pobres de terrenos grilados por especuladores financeiros em São José dos Campos, no assassinato sistemático de quem é alvejado pela polícia militarizada.
No Brasil a justiça persegue movimentos populares há décadas. Juízes do STF no Brasil “condenaram” à ilegalidade em 1947 o único partido de oposição que tinha o nome de Partido Comunista Brasileiro. Desencadearam a perseguição que o final da 2ª grande guerra mundial tinha interrompido levando aos assassinatos políticos da classe média urbana até 1974. A guerra no campo e nas favelas nunca parou.
Na América Latina a justiça baseada nos mesmos princípios perseguiu Jose Maria Martí, Pablo Neruda, Violeta Parra, Victor Jara. A prisão de Guantánamo está dentro do território cubano invadido pelos norte-americanos na baia de Subic para lembrar que não se pode afrontar os vencedores tão facilmente.
Assim quem aprecia a força sobre os outros ajuda a pedir cadeia para os adversários. Como não tem projeto para ganhar eleições faz força para que a lei ponha ferros sobre os políticos e grupos que defendem o rumo socialista da igualdade, equidade, e do mundo dos direitos. Gritam a favor dos animadores de televisão que pedem a pena de morte para os filhos dos outros, perdedores todos eles. Criminalizam quem comete a ousadia de exigir igualdade.
Por isso defendem multinacionais e grileiros de terras indígenas contra os movimentos dos sem-terra, contra índios, contra as mulheres do via-campesina. Pedem cadeia eterna para menores de 16 anos por crimes contra o patrimônio. Por extensão gostariam de voltar atrás a história extinguindo o Partido dos Trabalhadores por ter cometido o grave erro de se associar aos que sempre pagaram as eleições dos vencedores. Aliança financeira entre campanhas de partidos agora é chamada de lavagem de dinheiro. Não era esse o conceito criminalístico quando os partidos ‘vencedores’ estavam no poder. Foi baseado na “falta de provas” que um ministro do mesmo STF deu Habeas Corpus para banqueiro criminoso e não suspeitou nem fez inferências dedutivas sobre a possibilidade de um estuprador fugir do país. A inferência valeu para condenar políticos que defenderam os perdedores de sempre.
A lógica da continuação desse conceito de justiça que seleciona quem deve ser punido e quem não deve agride a democracia. A recompensa que esse tipo de justiça recebe da imprensa dos poderosos é uma bajulação que não dá prêmio algum para a população que vota por justiça social. Criminalizar a política é consequência de judicializar a política, quando as duas coisas deviam andar separadas e autônomas. A política não pode ser subordinada à judicialização. Esse foi o caminho do golpe de estado de 2012 no Paraguai e de 2011 em Honduras.
As bocas escorrem babas de vingança contra os personagens condenados sem que se permita exigir que as eleições no Brasil sejam proibidas de receber financiamento privado. Interessa a quem julga esconder que o crime não é dividir dinheiro.  O crime é poder recebê-lo de forma direta dando a uma empresa ou um banco a força maior que a de um milhão de eleitores no voto e na propaganda. Parte da esquerda que se sentiu traída e excluída fica deslumbrada com a ‘nova justiça’ da direita e pede com raiva que mandem para a cadeia seus antigos militantes. Qualifica como ladrões todos os que fizeram acordos entre os partidos que cometeram o pecado de ganhar as eleições em 2003.
Não foram ler a história de Jean Paul Marat, de Danton  nem do Coronel Dreyfus. Não leram o libelo acusatório de Emile Zolá em “J’Accuse”. Preferem guilhotinar a liderança mais próxima. Ficarão satisfeitos quando seus filhos receberem eletrochoques ‘não letais’ da polícia militarizada mais próxima? Ouvirão os rappers quando tiverem que entender por que são atingidos por uma ‘bala perdida’ da polícia.
Quem chora lágrimas de crocodilo agora pedindo as condenações pelo STF que montou um critério de julgamento que não existia sabe que os políticos de partidos tradicionais da direita não serão submetidos a eles. Não haverá julgamento do esquema privado de financiamento eleitoral que beneficia partidos de banqueiros. Não haverá crime de lavagem de dinheiro para quem colocou as Verônicas, irmã e filha, para traficar para fora do país o dinheiro da privataria da antiga Telebrás. O dinheiro desviado por Maluf nunca voltará ao tesouro nacional. Terão ficado satisfeitos em por na cadeia um professor secundarista que ousou ser tesoureiro de partido de esquerda e se associou com financiadores de campanha da direita.
Parte da esquerda aprendeu afinal não se sobe de classe social quando uma eleição é ganha. Os autoritários ficarão contentes em por na cadeia políticos que lutaram contra a ditadura e agora na democracia serão os mais novos presos políticos, pela transformação de dinheiro partidário em vantagem indevida. Se eles forem punidos a vantagem indevida poderá continuar sem problemas.
Essa satisfação autoritária não devolverá a razão ao autor do verdadeiro hino nacional do Brasil, torturado e enlouquecido na pancada, que não se lembra mais quem foi, nem pode entender o que fizeram com ele no cárcere. Cometeu o crime de compor uma música que as futuras gerações não arrivistas vão lembrar:_ “Para não dizer que não falei de flores”. Continuo achando que meus inimigos estão no poder embora o PT tenha conseguido ganhar eleições.


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