Ao perder eu a você,
você e eu perdemos.
Você , porque era eu
que muito a amava.
Eu, porque era você
que me amava mais.
Mas, de nós dois
perdi mais que você.
Poderei amar outras
como a amava,
Mas a mim jamais amarão mais
do que você me amava!
(PARODIANDO O POETA
NICARAGUENSE ERNESTO CARDENAL*)
Nada substitui a Emília. Nenhuma imitação. Sua presença é permanente em minha vida já há 43 anos. Alimento-me da hipótese de que comigo fique, mesmo imaterialmente enquanto eu ainda viva.
Saudade é a de cada minuto. Um sem fim para passar. Mas, todos insistem que só o tempo vai curar. Esperar passar para esquecer-me é remédio amargo. Sem sentido. Apenas foca o não lembrar o que não sara o lanho, nem preenche o vazio.
Emília tinha mil qualidades e alguns defeitos o que fazia dela gente como toda gente. Nós como companheiros de 43 anos vivemos prenhes de cumplicidade. Tempos de paixão, tempos de amor, tempos de amadurecimento, tempos de apoio e ajuda mútuos diante das muitas adversidades, tempos de diferenças e rusgas. Apenas vivemos como todos os humanos e o saldo de nossa humanidade foi positivo e deixa uma saudade que sangra.
Profissionalmente Emilia exerceu com esmero seu trabalho de educadora de adultos e de jovens, com destaque para as áreas de sexualidade humana e combate ao uso indevido de drogas. Para enfatizar sua responsabilidade dizia sempre: não posso errar pois sou “mãe e mestra”.
Vivia a maternidade que a encantava. Foi a mãe amorosa, desvelada e protetora de seus cinco filhos que não frustraram seu desejo de ter seis. Os cinco e os dois netos preencheram seu tempo e sua alma.
Emília tinha na relação sua marca registrada. Os papos, as negociações, as conciliações, as estratégias. Estava sempre sorrindo com qualquer interlocutor. Amava a todos que encontrava, com destaque para os pobres, os simples a quem sempre protegia e acolhia. Desde a juventude fez trabalho voluntário primeiro com os velhinhos. Depois com aalfabetização de adultos. Mais tarde com grupos de jovens e com casais.
Gostava de agradar e presentear as pessoas, fosse com palavras ou singelos mimos. Sabia demonstrar sua gratidão principalmente a aqueles que faziam bem a ela ou, mais ainda, aos seus.
Pessoalmente fui o mais beneficiado com sua existência. Meu sobrinho Fernando disse: “A maior característica da tia Emília era a paixão que tinha por você tio Gilson. Apoiava tudo que você desejasse e fizesse, todos seus sonhos. Colocava você nas nuvens. Para isto muitas vezes se escondia para não desfocar seu brilho”.
Sua principal arma a alegria e o sorriso instrumentos de sua humanidade e humanismo.. Alegria da relação e o sorriso sempre presentes até nos últimosmomentos de UTI quando adentrou na inconsciência final ou melhor, na consciência plena.
*ERNESTO CARDENAL: “Ao perder-te eu a ti, tu e eu perdemos. Eu, porque tu eras o que eu mais amava; tu, porque era eu que te amava mais. Mas, de nós dois tu perdes mais do que eu. Porque eu poderei amar a outras como amava a ti, Mas a ti não te amarão mais do que te amava eu!”