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Questão de saúde pública

20 de fevereiro de 2013

» NEZILOUR LOBATO RODRIGUES


Médica geriatra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)

"Nunca hei de ser velho." Assim se posicionava Jeremiah Saint Amour diante da expectativa da velhice. E decidiu, ainda jovem, que não passaria dos 60 anos. Na véspera do Domingo de Pentecostes, tira a própria vida. Jeremiah Saint Amour, personagem de O amor nos tempos do cólera, de Gabriel García Márquez, tinha um amor e uma vida razoável, mas põe fim a ela logo nas primeiras páginas do romance, funcionando como contraponto ao personagem principal, o solitário Juvenal Urbino, que espera mais de 50 anos pelo amor de sua vida, Fermina Daza.


Hoje os tempos são outros, a humanidade já passou por outras tantas epidemias, mas muitos males que afligem o ser humano começam pela mente e acabam sendo somatizados pelo corpo. E parte desses danos físicos são causados de forma consciente, por meio de um ato irreversível: o suicídio.


Estatísticas do Ministério da Saúde mostram que as taxas de suicídio na população em geral no país passaram de 4,0 para 4,8 em 100 mil habitantes, de 1980 a 2008. O crescimento ocorreu principalmente na população masculina, na faixa acima dos 60 anos de idade.


Recentemente, o assunto tem sido trazido à tona sob diversos enfoques. O suicídio do ator Walmor Chagas, em depressão causada por limitações visuais, foi destaque na mídia. Poucos dias depois, o ministro das Finanças do Japão - país com 25% da população acima dos 60 anos de idade -, Taro Aso, declarou que os idosos deveriam morrer para poupar gastos do governo com saúde pública. O próprio ministro tem 72 anos e diz que prefere morrer a onerar o governo. Na última semana, o assunto voltou à pauta, na divulgação de pesquisa coordenada pela renomada Escola Nacional de Saúde Pública(Ensp/Fiocruz).


É possível prevenir a antecipação do fim? Suicídio de idosos no Brasil e possibilidades de atuação do setor saúde, estudo financiado pelo programa Inova Ensp, teve como objetivo compreender a magnitude do suicídio na população brasileira acima dos 60 anos. A pesquisa apresentou entre seus resultados uma reunião de artigos dos pesquisadores envolvidos, tratando de tópicos como epidemiologia, fatores de risco, impactos na família e análise de uma experiência de prevenção. Sem dúvida, importante passo na direção de uma discussão ampla sobre o tema, que engloba desde a situação do idoso na família até a urgência na definição de políticas públicas de saúde (física e mental) que não deixem qualquer idoso, especialmente aquele que não possui família, desamparado.


As principais causas de depressão em idosos, a grande responsável por atentados extremados contra a própria vida, são: privação sensorial visual ou auditiva, incapacidade física, dor em pacientes com doença crônica, uso de álcool, efeitos colaterais de alguns medicamentos, permanência em instituições - principalmente quando há falta de visitas -, más condições de saúde aliadas a precário suporte social, solidão, perda de contatos e baixo nível de escolaridade e de cultura.


Os idosos com depressão e seus familiares devem ser interrogados rotineiramente sobre pensamentos de morte e ideação suicida, já que o maior índice de suicídios registrados ocorre na população idosa, principalmente entre homens acima de 70 anos. A falta de apoio familiar fortalece o empenho para tornar a tentativa "bem-sucedida". Enquanto em outras faixas etárias a relação está entre 100 e 200 tentativas para uma morte consumada, nos idosos ela é de dois a três, de acordo com os números oficiais.


Como o histórico de tentativas prévias de suicídio entre idosos é incomum, é de suma importância a criação de medidas para a redução da prevalência da depressão. Entre elas, a busca de prevenção e tratamento das doenças crônicas, suporte social adequado, prevenção do isolamento social, meios de compensação para danos funcionais e acompanhamento psicológico.


Tais medidas podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida e o aumento da autoestima. Idosos saudáveis têm tudo para serem felizes como outra pessoa de qualquer idade. E ainda podem servir de exemplo para os Jeremiahs que acreditam que a idade avançada, apenas um número na linha da vida, por si só é o suficiente para se abrir mão de todo o resto.
 
Fonte: Correio Braziliense


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