Trabalho como agente de promoção da saúde é tema de palestra em congresso
Teve inicio nesta quarta-feira (6), na sede do Conselho da Justiça Federal (CJF), em Brasília, o IV Congresso Brasileiro dos Serviços de Saúde do Poder Judiciário, evento promovido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em parceria com o Centro de Estudos Judiciários (CEJ) do CJF.
Heliete Maria Castilho Karam, doutora em psicologia clínica pela Universidade de Paris, ministrou a primeira conferência do encontro, cujo tema foi “O trabalho como agente de promoção da saúde”. Ela iniciou sua conferência ressaltando que o dia a dia da saúde é frágil e precário, um estado constante de luta pela busca de equilíbrio entre compensação e descompensação.
“Para a psicodinâmica do trabalho, saúde são todos os estados que se encontram entre o bem-estar físico, psíquico, moral e social, de um lado; e, de outro lado, as descompensações”, disse.
Segundo ela, saúde não se compra e não se vende. “Saúde não é mercadoria”, afirma. Para que o trabalho seja agente promotor da saúde, explicou Heliete Maria, é preciso que seja agente causador de esperança nas organizações.
Desafio
“Esse é o maior desafio para nós, profissionais da saúde, um desafio hoje no Brasil e em muitos países do mundo. Existem países com situações graves e o Brasil não fica de fora, pois temos entrado em uma roda viva, em um mercantilismo que implica a própria comercialização da saúde”, comentou .
Um dos desafios, de acordo com a especialista, é ajudar o serviço de saúde das organizações a compreender que trabalhar não é só produzir, mas sim transformar a si mesmo.
“É nesse aspecto que reside a potência do trabalho, como agente de promoção de saúde. Transformar a si mesmo depende das organizações permitirem ao sujeito, qualquer que seja o seu nível hierárquico, dar continuidade ao processo de construção de sua identidade. Identidade que, embora seja um conceito da sociologia, é o arcabouço e articulador da saúde mental”, disse.
De acordo com a especialista, a saúde depende dessa articulação entre o trabalho como produção e o trabalho psíquico investido na produção: “Aí, sim, existe trabalho efetivo. Em outras palavras, há trabalho vivo. Quando o sujeito desafiado pelo real pode reagir, terá, então, liberdade suficiente no ambiente de trabalho para reagir e acrescentar algo de si ao processo.”
Suicídios
Outro ponto abordado pela especialista foram os altos índices de suicídio e as dependências químicas, no mundo todo, ligados ao ambiente de trabalho ruim. “Algumas pessoas recorrem ao álcool para silenciar esse barulho interno e anestesiar a consciência. Já o suicídio também começa a preocupar o Brasil, mas infelizmente aqui não é tão estudado como lá fora”, afirma.
Segundo ela, em 2010 ocorreram 10.334 suicídios na França, 68% deles relacionados ao trabalho. Já os países asiáticos estão em primeiro lugar em índices de suicídio entre pessoas de 14 a 34 anos, que trabalham de 6h às 21h.
“Quando o trabalho não vai bem, não adianta forçar o trabalhador, exigindo mais assiduidade, mais presença, mais concentração, mais treinamento, menos erros, mais resultados, mais produtividade, melhor cumprimento de metas e prazos ou ainda mais e melhor assiduidade pessoal com sua saúde, muitas vezes responsabilizando e até culpando-o pelos descuidos do seu corpo ou comportamento”, disse Heliete Maria Castilho.
Troca de experiências
Na cerimônia de abertura do congresso, o secretario de Saúde do STJ, Bonfim Abrahão Tobias, ressaltou que o evento é muito importante para o Judiciário brasileiro, pois permitirá uma intensa troca de conhecimento. “O objetivo do encontro é trocar ideias e experiências na área de saúde, para que possamos ter uma uniformização dessas atividades em toda a Justiça do Brasil”, disse o secretário.
O serviço de saúde no Judiciário, segundo Abrahão Tobias, não é área fim nem meio, mas sim uma área de apoio, que como tal deve ser observada e respeitada naturalmente.
“O nosso objetivo é oferecer o melhor tratamento aos magistrados e servidores de toda a Justiça brasileira. Por isso, temos que dar a devida importância ao serviço de saúde, porque da manutenção do bem-estar físico e mental dos seus integrantes depende o bom trabalho de toda a Justiça”, finalizou o secretário.
Metas
Voltado para profissionais de saúde e de recursos humanos que atuam na área médica do Poder Judiciário, o evento foi organizado para promover a informação, a atualização científica e a integração entre os servidores do setor.
O congresso tem como metas específicas debater ações de saúde assistenciais, preventivas e atividades periciais; estimular a interdisciplinaridade nas ações relativas à saúde; divulgar experiências em projetos e trabalhos realizados e integrar os serviços de saúde dos diversos órgãos do Poder Judiciário.
A programação se estenderá até sexta-feira (8), na sede CJF, com mesas-redondas, palestras, conferências e apresentações de temas livres, programas e projetos relativos a atividades e experiências dos serviços de saúde do Poder Judiciário.