Gilson Carvalho
Estas anotações eu as fiz, a pedido dos coordenadores, para uma homenagem prestada ao Nelsão no 11º Congresso Paulista de Saúde Pública realizado em São José dos Campos de 22 a 26 de agosto de 2009.
Neste ano de 2009 comemoramos 40 anos de amizade: Nelsão e eu. Fomos apresentados pela amiga comum Célia Lúcia Monteiro de Castro, na ABEM, no Rio de Janeiro. Estávamos, desde o início do ano, pensando em nos juntarmos em algum lugar para a comemoração oficial. Este momento foi-nos propiciado agora, aqui no Congresso, diante de inúmeros amigos e admiradores do Nelsão, principalmente eu.
Quando, anos atrás, fui obrigado a colocar meu currículo na Plataforma Lattes corri a ver o de meu amigo Nelsão, doutor e professor universitário, avesso a formalidades e burocracia. Encontrei o que imaginava: a delinqüência dum Lattes condensado no essencial e a grande produção concentrada no atacado: 36 bancas de doutorado, 22 de mestrado, 26 de concursos públicos e 66 artigos e capítulos em revistas e livros. Este era o Nelsão que admiro e de longe procuro imitar. Nada de formalidade, de desnecessário, de inconsistências e... Para isto desatou o nó da formalidade burocrática até da Plataforma Lattes.
Vou fazer aqui um resumo curricular, um anti Lattes, tão delinqüente para o bem como você é Nelsão.
• Nascido em BATATAIS-SP viveu a de moleque de interior, mesmo com a carga de responsabilidade de ser o filho do médico cirurgião Dr.Brasílio, respeitadíssimo na cidade.
• Na USP, como estudante de medicina, fez parte do inimaginável: um “atleta da esquerda” (rompendo o paradigma da incompatibilidade de militar na esquerda e ser esportista!). Das molecagens e irreverências de faculdade, típicas de um anarquista-consequente, eximo-me de comentar. Mas, testemunhas existem.
• Formado médico na USP, ficou na faculdade onde fez seu doutorado e cometeu a ousadia de, após doutor, ir fazer a especialização em saúde pública, na banca do “adversário”.
• 1962-1967 Seu doutorado marcou a diferença. Veio a Roseira, no Vale do Paraíba, pesquisar a esquistossomose. Ao fazer sua pesquisa já foi concretizando uma intervenção para mudar a realidade diagnosticada. Pesquisa e ação juntos! Pesquisação! Levou a comunidade, jovens, adultos e idosos, à participação para eliminar o caramujo e conseguiu do Estado o saneamento básico na cidade. Situa-se esta tese entre as raríssimas que pesquisam e intervém. Seria inimaginável um Nelsão estudando alguma coisa, identificando problema e causa e se acomodando sem mexer para transformar.
• 1970-1976 Sai de professor da USP na capital São Paulo, a Meca da ciência, para iniciar o trabalho em uma “pequena paróquia” de interior. Vai ajudar a montar e desenvolver a Faculdade de Medicina da Universidade de Londrina. Em Londrina faz a inovação de integrar ensino e serviços numa parceria da prefeitura com a Faculdade de Medicina criando postos de saúde na periferia de Londrina.
• 1976-1978 A primeira passagem pelo Ministério da Saúde. Participa da equipe que implanta o PIASS – Programa de Integração de Ações de Saúde e Saneamento.
• 1978-2006 – Ingressa na UNICAMP onde ficou até a aposentadoria em 2006. Várias ousadias foram cometidas na graduação, na pós, no trabalho extra - muro, na associação com serviços.
• 1978-1982 – Foi Diretor do CENTRO DE SAÚDE ESCOLA de PAULÍNIA, dentro da proposta de integração docente-assistencial da UNICAMP.
• Neste período trabalhou no Município de Campinas e na região com a proposta de implantar os primeiros cuidados de saúde como porta de entrada no Sistema de Saúde, em consonância com princípios da Declaração de Alma Ata que rege a Atenção Primária à Saúde. Esta presença do Nelsão o coloca no centro do Movimento Municipalista de Saúde que se implantou nos novos governos municipais eleitos em 1976. Fez inúmeras reuniões com os Municípios em encontros locais e regionais na defesa da Atenção Básica.
• 1981-1982 – Aqui cometeu um feito espetacular. Tirou a Universidade de seus muros e conveniou-se com a Prefeitura de São José dos Campos para dar um Curso de Especialização em Saúde Pública aos profissionais de saúde da Secretaria, em São José dos Campos. Juntou-se a professores igualmente comprometidos e durante um ano e meio realizou o curso. Sempre presente prestou excelentes contribuições à implantação do sistema municipal de saúde de São José dos Campos.
• 1983-1988 – Foi Secretário Municipal de Saúde de Campinas e ajudou a implantar as Ações Integradas de Saúde – AIS uma proposta em que se juntavam ações do MS-INAMPS-ME em parceria com as Secretarias de Saúde do Estado e dos Municípios.
• 1987-1990 – Concomitante ao desempenho da função de Secretário Municipal de Saúde de Campinas esteve participando da equipe da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo com a função de implantar o SUDS, assumindo função na Superintendência Estadual do INAMPS do Estado de São Paulo.
• 1990-2009 – Foi para o Ministério da Saúde onde assumiu a Diretoria de Programas Especiais. Foi Secretário
Executivo do Conselho Nacional de Saúde entre 97-2002. E depois disto ficou entre a UNICAMP e consultorias prestadas ao Ministério da Saúde como nos últimos anos acompanhando as reuniões da Comissão Intergestores Tripartite.
Outro destaque importante a nós de São José dos Campos e a todos participantes do 11º Congresso de Saúde Pública é a presença do Nelsão no Vale do Paraíba.
• Citada acima está sua tese de doutorado, realizada com a intervenção no controle da esquistossomose em Roseira.
• Outra ligação é a afetiva, pois sua tia paterna foi madre Tereza, fundadora de uma Congregação Religiosa criada para cuidar de pessoas portadoras da tuberculose. A partir da própria doença se junta a outra mulheres, cria a Congregação e constrói um sanatório para mulheres e outro para crianças. Além disto, construiu dois hospitais gerais em SJ Campos, o Pio XII e o N. S. de Fátima.
• Além disto, seu pai Dr. Brasílio foi médico em São José dos Campos, já quando mais velho. Trabalho no Hospital Fátima e foi homenageado com uma Unidade Municipal de Saúde com seu nome. Estas duas ligações (o pai e a tia) trouxeram o Nelsão ao Vale inúmeras vezes. Faz parte da história que ele não perdia nunca o bacalhau preparado caseiramente por um português que tinha seu restaurante bem em frente à casa das freiras.
• Depois a ajuda que deu à Secretaria Municipal de Saúde nas duas gestões. A de 79-82 e depois a de 89-92. Sendo que foi na primeira que realizou o primeiro curso de especialização em saúde pública no Vale do Paraíba. Foi o embrião de outros curtos que até hoje acontecem na UNITAU.
Finalmente tenho que falar um pouco da história de Nelsão e minha história na saúde que em vários momentos esteve junto.
• Conheci Nelsão apresentado por uma amiga comum, Célia Lúcia Monteiro de Castro, Secretária Executiva da Associação Brasileira de Escolas de Medicina, ABEM. Foi em 1969. Começava minha busca da saúde pública, da medicina social e estivemos juntos em vários encontros e congressos. Eu como aprendiz e ele como professor e respeitado especialista em saúde pública.
• Voltamos a nos encontrar várias vezes, até mesmo, em reuniões “meio clandestinas” no Rio e São Paulo às quais Nelsão me levava meio de contrabando.
• Depois fui aluno do Nelsão no Curso de Especialização em Saúde Pública realizado pela UNICAMP aqui na Secretaria Municipal de Saúde de São José dos Campos para algumas dezenas de técnicos da saúde. Nelsão veio e trouxe excelentes professores da preventiva para nos aprimorar no conhecimento da saúde pública.
• Deu apoio às duas gestões em que fui dirigente da Saúde em São José dos Campos, fazendo verdadeiras consultorias informais.
• Fizemos uma amizade fraterna entre nós (Emilia e filhos) e a turma do Nelsão: a esposa Elza, e os filhos Juliana, Isabela e Fabiano.
• Quando íamos a Campinas, em meio a reuniões, fazíamos os churrascos comunitários, em geral na casa do Nelsão. No litoral norte, onde, por coincidência ambos passávamos uns dias nas férias, passamos com as famílias muitos bons momentos. Inesquecível a entrada com a nossa tropa de adultos e crianças nas praias de condomínios fechados onde as portas de início se fechavam e só se abriam para nós, depois da negativa primeira com o anúncio do Nelsão: “Diga ao Síndico que é a família do Coronel Rodrigues”. Em época de ditadura militar esta patente era suficiente para abrir todas as portas!
• A fraternidade entre Nelsão e eu e, depois, de nossas famílias. teve mais tarde a agregação do Guido e da Lenir que chegavam como procuradores da UNICAMP.
• De lá até hoje: encontros, reuniões, emeios, telefonemas, mesas e a fraternidade se aprofundando.
• Mais recentemente podemos dizer que se quebrou um juramento ou costume. Está havendo o debate ao redor de uma publicação o Nelsão como
Finalmente, hoje, quem é o Nelsão? O que vem fazendo?
NELSÃO ESCRITOR, CONFERENCISTA, CONSULTOR, PRESIDENTE DO IDISA E O GRANDE GURU MEU E DE INÚMEROS PROFISSIONAIS DE SAÚDE A VOCÊ, NELSÃO, GRANDE HOMEM E SER HUMANO BRILHANTE, DEVEMOS MUITO E MUITOS APARECIDOS E ANÔNIMOS BRASILEIROS QUE USUFRUÍMOS DAS CONSEQUÊNCIAS DE SUA LUTA PELO DIREITO À VIDA-SAÚDE.
NELSÃO, O CAVALEIRO DA ESPERANÇA!